Número de atendimentos do TeleSUS despenca em meio ao avanço da covid-19

O número de atendimentos remotos e gratuitos por plataformas do TeleSUS despencou em pleno avanço da covid-19. Segundo documentos internos obtidos pelo <i>Estadão</i>, o serviço de "busca ativa" de pacientes foi o mais atingido. Trata-se da modalidade em que o programa dispara milhões de ligações, guiadas por um algoritmo, para repassar orientações e questionar a população sobre sintomas da doença.

Ampliado pelo Ministério da Saúde durante a pandemia da covid-19, o TeleSUS é acessado pelo telefone 136 por um "chat" no site governo federal ou em um aplicativo para celulares. Além destes serviços, há as ligações feitas pelo programa. Segundo dados da pasta, foram feitas 67 milhões tentativas de contatos em abril e maio, por meio de todos os canais do TeleSUS. No mês seguinte, 7,1 milhões.

Também caiu o número de contatos concluídos, ou seja, quando o questionário feito por telefone, "chat" ou aplicativo é finalizado e o paciente recebe uma orientação. Em abril e maio, foram 23,5 milhões de interações completas. Até o fim de junho, menos de 2 milhões.

No auge do TeleSUS, o Ministério da Saúde chegou a concluir 6,5 milhões de contatos de 20 a 26 de abril. Na última semana de junho, foram 401,8 mil.

Gráficos sobre ligações concluídas pelo TeleSUS, obtidos pelo jornal mostram que está próximo de zero o número de chamadas repassados a um profissional de saúde e originadas pela "busca ativa". Segundo gestores do SUS que acompanham o programa, o TeleSUS opera, hoje, praticamente apenas por meio de pessoas que buscam os canais do governo ou com chamadas de acompanhamento de pacientes que já fizeram este contato.

A queda da "busca ativa" explica-se pela falta de repasse de bases de dados do Ministério da Saúde a empresas contratadas para executar as ligações, dizem gestores de saúde e integrantes do governo. A versão é reforçada por documentos internos da Saúde. A redução das ligações acompanhou também a troca de ministros e do comando da Secretaria de Atenção Primária (SAPS), que faz a gestão do TeleSUS.

A médica sanitarista e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo, lamenta o esvaziamento do TeleSUS. "É mais um passo da inexistência de um plano efetivo de enfrentamento da covid-19", disse. A médica afirma que a vigilância epidemiológica é essencial para controle de qualquer surto. "Neste caso, como há dificuldade de deslocamento, pois pessoas indo ao serviço médico as pessoas disseminam o vírus, se investe no teleatendimento. A cada caso confirmado, deve-se buscar os contatos . É fundamental manter o serviço."

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