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Levedura do pão e da cerveja pode ser alternativa para tratar leucemia infantil

Uma enzima da levedura do pão e da cerveja pode, no futuro, ser uma alternativa para o tratamento da leucemia infantil. Em testes in vitro, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) constataram que a enzima L-asparaginase, retirada da substância, é capaz de atacar células tumorais desse tipo de câncer sem interferir nas células saudáveis. O artigo sobre o estudo, iniciado em 2013, foi publicado no mês passado na revista Scientific Reports, do grupo Nature.

Na pesquisa, a enzima se mostrou eficaz para tratar a leucemia linfóide aguda infantil, cujo tratamento já é feito com a enzima L-asparaginase, mas com uma versão retirada da bactéria E. Coli, que pode causar irritações no sistema imunológico do paciente. Com a nova enzima, obtida a partir da levedura do pão e da cerveja, a expectativa é de que seja possível combater a doença com menos efeitos colaterais.

“A levedura do pão, que usamos há tantos anos para obter produtos fermentados, é um organismo simples e a gente consegue trabalhar bem com ele. O que está presente no mercado hoje é advindo de bactérias e pode causar reações imunes. Como esse vem da levedura e é mais semelhante ao nosso organismo, a gente espera que ela vai causar menos alergia nos pacientes. A leucemia linfóide aguda atinge crianças entre 3 e 5 anos, que têm uma expectativa de vida enorme. Elas não podem fazer um tratamento que cause danos, com efeitos colaterais “, diz Gisele Monteiro, professora Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da USP e orientadora da pesquisa.

“As células tumorais (desse câncer) têm uma deficiência para a produção de asparagina. Quando colocamos a enzima, essas células morrem e as normais, não. Espero que, quando terminarmos o projeto, tenhamos uma produção brasileira para ter um medicamento para tratar as crianças”, afirma.

Surpresa

Iris Munhoz Costa, aluna do Departamento de Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica da USP e autora principal da pesquisa – que faz parte de um projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), diz que o resultado foi surpreendente, embora o estudo ainda esteja em fase inicial.

“A gente não esperava uma resposta tão positiva. Fizemos o teste e, in vitro, a enzima tem atividade alta. Sabemos que ainda é um trabalho preliminar, não sabemos como ela se comporta fora do tubo de ensaio, mas foi um primeiro passo para mostrar que é possível encontrar alternativas.”

Novos testes in vitro serão realizados para verificar se a enzima é tóxica ou não. Apenas com esses resultados é que o estudo deve avançar para análises com cobaias. Se os resultados continuarem sendo positivos, ela poderá ser testada em humanos.
“Todos nós estamos nos dedicando, mas isso não é para um futuro próximo, porque o desenvolvimento de medicamentos demora muito”, diz Iris.

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