Preocupada com a crescente corrente do mercado que contava com um corte de juros ainda este ano, a direção do Banco Central fez uma ação coordenada para passar a mensagem de que não há essa expectativa entre os seus diretores. Nem mesmo entre os “dovishes”, expressão inglesa do mercado financeiro para classificar os executivos que são considerados um pouco mais tolerantes com a inflação. Num dia de poucos negócios, o mercado reagiu bem ao discurso uníssono do BC e as taxas de juros futuras acabaram caindo ontem.
Em menos de 24 horas, três membros do Comitê de Política Monetária (Copom) garantiram que não há espaço para cortes da Selic, atualmente em 14,25% ao ano. Na quinta-feira, o presidente Alexandre Tombini e o diretor Aldo Mendes tocaram no tema. Ontem, foi a vez de o diretor Altamir Lopes, responsável por uma divulgação de informações regionais na capital cearense, engrossar essa lista e também comentar o assunto. “Para trazer a inflação para 4,5% em 2017, nosso cenário não contempla queda dos juros”, garantiu.
Os três votaram na reunião passada pela manutenção da taxa, de um total de oito integrantes do colegiado – dois deles gostariam de ter visto o juro básico subir para 14,75% ao ano desde novembro do ano passado. A ação coordenada de Tombini, Mendes e Lopes teve como objetivo corrigir essa expectativa mais amena com os juros. Essa avaliação de economistas foi formada depois que o presidente falou, no final de janeiro, que as mudanças de previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) eram significativas.
O consenso que havia no mercado de que o BC elevaria os juros desmoronou e, após esse alerta, várias informações externas encampavam a análise de que o mundo passa por mais um período difícil. Foi a senha para que mudassem as apostas de lado. Lopes disse ontem que a crise externa fará com que uma onda desinflacionária chegue à economia brasileira, que está em recessão. “Há muito tempo não vejo um início de ano tão conturbado do quadro internacional”, constatou.
Petróleo
Ao contrário de membros do colegiado que têm dúvidas sobre o repasse da baixa do petróleo aos preços domésticos por causa do caixa da Petrobrás, o diretor acredita em um impacto importante, ainda que não signifique exatamente baixa de preço. O lado positivo para a inflação é de que não haveria pressão de alta. Ele lembrou que há “toda uma cadeia” que é afetada por esses preços, além de haver impactos nos custos da indústria e também na agricultura. “A queda do preço do petróleo afeta o Brasil, sim, apesar de preço ser administrado”, argumentou.
Além disso, os altos executivos do BC também reforçaram a expectativa de que a inflação acumulada em 12 meses passará a cair a partir deste mês. “Se concretizada, a queda esperada de dois pontos porcentuais na inflação no primeiro semestre torna a tarefa de levar o IPCA à meta em 2017 mais fácil”, disse.