O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, divulgou nota nesta quinta-feira, 3, com comentário sobre a queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015, que teve o pior resultado desde 1990. De acordo com ele, as Contas Nacionais confirmaram a “expressiva contração da atividade econômica”, reflexo, entre outros fatores, das incertezas prevalecentes nas economias doméstica e internacional.
Os cenários internos e externos também voltaram a ser o principal argumento, em reunião realizada nesta semana, para a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano pela quinta vez consecutiva. Essa análise apareceu pela primeira vez na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro.
Tombini também comentou na nota que, numa visão prospectiva, a continuidade da evolução desfavorável da atividade neste ano torna mais prementes a perseverança nos ajustes macroeconômicos em curso e a necessidade de avanços nas reformas estruturais. Esses dois fatores, de acordo com ele, tendem a construir bases mais sólidas para a retomada da confiança e do crescimento econômico.
A preocupação com a retomada da confiança tem sido expressa em vários documentos do Banco Central. No fim do mês passado, o diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, ressaltou que os dados mais recentes já mostravam uma certa melhora dos dados. Ele disse, no entanto, que esse quadro ainda não podia ser visto como uma tendência e que, de qualquer forma, ainda estava em patamares historicamente baixos.
De acordo com o IBGE, a retração da atividade no ano passado foi de 3,8% na comparação com 2014. O resultado ficou levemente abaixo da mediana das estimativas do mercado financeiro (3,9%) para o período coletadas pelo AE-Projeções. A nota do presidente Tombini este ano foi publicada mais tarde do que o de costume, após o fechamento dos mercados. Nos últimos anos, a divulgação foi feita entre 12 horas e 13h30.
Desde janeiro, quando voltou de viagem ao exterior, Tombini tem alertado sobre uma nova onda negativa que paira sobre a economia mundial. A expectativa do BC é a de que essa desaceleração econômica global poderá ser responsável por um processo desinflacionário no Brasil, o que ajudaria a instituição a colocar a inflação deste ano dentro do intervalo de 4,5% (centro) a 6,5% (teto) da meta do período e a de 2017 mais próxima ao objetivo de 4,5% – o teto do ano que vem é de 6,00%.
O mandato do BC é circunscrito à estabilidade da moeda e não tem relação com o desempenho da economia. No Congresso, porém, circulam alguns projetos que tratam da independência da instituição e outros que acrescentam a geração de empregos e o nível de atividade como novas atribuições a serem de responsabilidade da autoridade monetária também, a exemplo do que já ocorre em outros bancos centrais do mundo, como o Federal Reserve (Fed), dos Estados Unidos.
Em 2014, em nota similar ao documento publicado hoje, Tombini comentou que o resultado do PIB confirmava uma pausa no crescimento econômico doméstico. Ele ressaltou, no entanto, que as revisões promovidas pelo IBGE para os dados passados mostravam que o quadro era de maior expansão da atividade econômica desde 2012, de participação mais elevada do investimento na economia e de melhores indicadores de solvência do País. “Numa visão prospectiva, não obstante a evolução desfavorável da atividade no curto prazo, os ajustes macroeconômicos em curso tendem a construir bases mais sólidas para a retomada da confiança e do crescimento econômico”, escreveu Tombini um ano atrás.