O uso das reservas internacionais, hoje em US$ 372 bilhões – algo perto de R$ 1,4 trilhão pelo câmbio atual -, é motivo de discordância dentro do governo. Na segunda-feira, depois de participar de uma reunião com a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, voltou a falar sobre essa possibilidade. Wagner disse que o governo avalia usar um terço das reservas para abater a dívida pública federal. Em janeiro, o estoque da dívida atingiu R$ 2,749 trilhões.
A declaração do ministro antecipa uma queda de braço entre as alas política e econômica do governo. “Abrir mão dessas reservas para quê?”, questiona uma fonte graduada da equipe econômica, que defende a necessidade de manter intocável o “seguro financeiro” do País. Lembrou que economistas “da Casa das Garças ao Instituto Lula” – em alusão a matizes que vão das correntes neoliberais às desenvolvimentistas – levantam recorrentemente a hipótese de uso de reservas para financiar abatimento da dívida pública, investimentos e até mesmo programas sociais.
“Essa perspectiva para investimento é descartada, a outra, para abater a dívida, está em discussão”, disse Wagner. A questão ainda não foi fechada, mas a declaração do ministro expõe a pressão em torno da proposta.
A resistência à medida vem tanto do Ministério da Fazenda quanto do Banco Central. Um integrante da equipe econômica faz até a comparação do Brasil com a China para ressaltar a importância das reservas como proteção às oscilações da economia mundial. Desde o ano passado, lembrou, a China vem perdendo em torno de US$ 100 bilhões por mês em reservas por causa das consequências da mudança em sua política cambial.
As incertezas causadas pela volatilidade estão levando as empresas chinesas a pagarem suas dívidas em dólar, o que tem impacto nas reservas. A visão dessa fonte é que a China será capaz de absorver as dificuldades decorrentes da volatilidade cambial e do alto endividamento das empresas.
Bancos
No Brasil, o sistema financeiro, que tem absorvido pedidos de renegociação de dívida de empresas com fluxo de caixa em baixa, está suficientemente capitalizado para continuar funcionando como um amortecedor interno da crise econômica em 2016. Ainda assim, segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apesar de não enxergar com maior preocupação a liquidez do sistema este ano, a autoridade monetária acompanha com atenção os efeitos de uma eventual recessão em 2017.
O aprofundamento da crise tornaria mais difícil o alongamento das dívidas corporativas, o que poderia ter efeito nos bancos médios. E passa a ser um ponto de interrogação para o próximo ano. O ciclo de retomada da economia tem de começar ainda no segundo semestre para manter o cenário sustentável. A difícil tarefa de restabelecer a confiança na economia, tanto de empresas quanto dos consumidores, recobre de incertezas o prolongamento de uma situação marcada por pedidos de rolagem de dívidas que sobrecarregam os bancos.
Pelo acompanhamento do governo, a liquidez bancária é satisfatória, mas a paralisia da economia se espalha de forma perigosa por diversos segmentos. “O ambiente não está favorável para a confiança do consumidor. E as incertezas se estendem para as empresas”, diz um membro da equipe econômica.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.