A recessão tem mudado o fluxo de investimento estrangeiro produtivo para o Brasil. O Banco Central prevê que os recursos para ampliação e modernização de fábricas e compra de empresas no País devem cair 20% em 2016. No ano passado, a cifra já havia caído 22,5%. Isso coloca o Brasil na contramão da tendência global de aumento dos fluxos. Com vendas em queda, multinacionais têm reduzido a velocidade dos novos projetos e ainda dispõem de menos dinheiro em caixa para reinvestir no País. Companhias alertam que, se a crise demorar a ser resolvida, o tombo pode ser ainda maior.
A recessão que atinge a economia brasileira já aparece há vários trimestres nos balanços de grandes multinacionais. De montadoras a supermercados, o Brasil tem sido destacado como fonte de queda no faturamento e lucro. Agora, o agravamento da crise e a persistência das incertezas parecem contaminar cada vez mais o outro lado do balanço das empresas: o investimento.
Enquanto o BC informa que o fluxo de investimento direto para o Brasil caiu 22,5% em 2015 na comparação com o ano anterior, dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostram que o fluxo global aumentou 36%, conforme a última estimativa da entidade. Com esse salto, o montante investido por multinacionais em outros países alcançou o maior nível desde o início da crise financeira em 2008.
O levantamento da entidade das Nações Unidas reconhece que o fluxo para emergentes tem ritmo menos intenso que o destinado a economias desenvolvidas. Mas, ainda assim, aumentou mais de 5% no ano passado. Os recursos para o conjunto da Ásia, por exemplo, cresceram 15%. Só para a Índia, o valor praticamente dobrou. Até para a Turquia, país que tem delicado quadro geopolítico, o investimento estrangeiro avançou 30%.
“Claro que a situação macroeconômica afeta o investimento estrangeiro, mas o impacto não é imediato porque esse tipo de fluxo é de longo prazo. Normalmente, projetos levam de três a cinco anos para serem concluídos”, diz o chefe da divisão de tendência de investimentos e dados da Unctad, Astrit Sulstarova. “Mas, entre as componentes do indicador para o Brasil, há queda no reinvestimento do lucro e nos empréstimos entre sede e filial.”
O especialista da Unctad explica que os momentos de piora da economia derrubam inicialmente o lucro das companhias. Assim, filiais têm menos caixa disponível e, ao mesmo tempo, as matrizes demonstram menor disposição para investir. Isso tem como efeito secundário a menor demanda e propensão das corporações a tomar crédito por meio das sedes. Dados preliminares da Unctad para o Brasil mostram retração na casa de 30% no reinvestimento de lucros e queda entre 40% e 50% no crédito intercompanhia, diz Sulstarova. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.