Ex-secretário de obras do Rio, Hudson Braga veio a público negar as informações citadas no acordo de colaboração do ex-governador Sérgio Cabral, preso na Operação Lava Jato, de que teria operado repasses ilegais ao ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), em troca da venda de decisões judiciais.
As informações da delação sigilosa vieram a público na última terça-feira, 11, depois que a Polícia Federal pediu a abertura de uma investigação contra o magistrado. Como mostrou o repórter Rafael Moraes Moura, a tendência é que a Procuradoria Geral da República (PGR) embargue a abertura de um inquérito.
Em nota, através do advogado Roberto Pagliuso, o ex-secretário afirma que jamais chegou sequer ao seu conhecimento o oferecimento de qualquer vantagem ao ministro.
"Sérgio Cabral tenta se safar de suas responsabilidades, alterando suas estratégias. Ora negou os fatos, ora adotou manobras processuais e depois de ver a consolidação de suas penas, resolveu, por desespero, criar fatos para viabilizar sua colaboração premiada. Nunca teve qualquer apreço pela verdade, nunca produziu qualquer prova de suas alegações mentirosas", diz a manifestação.
A defesa de Sérgio Cabral, por sua vez, afirma que o ex-governador apresentou todos os relatos, com a indicação de fatos precisos e dados de corroboração.
Em um dos trechos de sua colaboração premiada, Cabral acusa Toffoli de receber cerca de R$ 4 milhões para ajudar dois prefeitos do Estado do Rio em processos que tramitavam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ministro atuou na Corte Eleitoral de 2012 a 2016. De acordo com o delator, os pagamentos efetuados por Hudson Braga teriam alcançado o escritório da advogada Roberta Rangel, mulher de Toffoli.
O Supremo Tribunal Federal ainda vai revisitar a decisão que homologou a delação do ex-governador, processada na Corte por envolver autoridades com prerrogativa de foro privilegiado. Isso porque a Procuradoria-Geral da República (PGR) contesta o acordo, por considerar que não foram apresentados fatos novos. A análise do recurso está marcada no plenário virtual, a partir de 21 de maio.
Na delação, Cabral se comprometeu a devolver aos cofres públicos R$ 380 milhões recebidos como propina enquanto foi governador. Preso desde novembro de 2016 e condenado a penas que ultrapassam 340 anos de prisão, ele admitiu ter recebido propina durante seu governo no início em 2019, quando chegou a dizer que seu apego a poder e dinheiro é um vício. Desde então, passou a confessar crimes cometidos em depoimentos à Justiça, chegando a citar os ex-prefeitos Eduardo Paes (DEM) e Marcelo Crivella (Republicanos).