O aceno do Banco Central para a chance de elevar os juros em ritmo mais intenso em agosto ajudou o real a ter o melhor desempenho no mercado internacional nesta quinta-feira, com relatos de ingressos de capital externo no País. O dólar testou os maiores níveis em dois meses ante moedas rivais, mas operou em queda durante todo o dia no Brasil, se aproximando novamente dos R$ 5,00.
O ritmo de baixa da moeda americana se reduziu um pouco nos negócios da tarde, na medida em que outros mercados pioravam, e o Ibovespa recuou a 127 mil pontos, mas a divisa ainda seguiu distantes das máximas do dia. No mercado externo, predominou a cautela após a maioria dos dirigentes do Federal Reserve sinalizar que altas de juros podem ocorrer a partir de 2023.
No fechamento, após cair para a mínima de R$ 5,0090 no começo da tarde, o dólar terminou o dia em baixa de 0,74%, a R$ 5,0225. No mercado futuro, o dólar para julho cedia 0,72% às 17h40, a R$ 5,0235.
O comunicado mais duro, ou hawkish, do Banco Central pode levar o dólar a cair abaixo de R$ 5,00, avaliam participantes do mercado. Mas a dúvida é se o movimento vai durar ou será de curto prazo.
Para o economista-chefe da JF Trust Gestão de Recursos, Eduardo Velho, o BC mais firme na elevação de juros favorece o dólar abaixo de R$ 5,00, mas a dinâmica de alta no exterior pode limitar esse movimento, na medida em que o Fed também passou a adotar um tom mais duro na sinalização de sua estratégia, o que pode desacelerar o fluxo de recursos para economias emergentes.
No mercado internacional, o dólar teve o dia de maior alta desde 20 de março, chegando ao maior valor ante o euro desde meados de abril, ressalta o analista sênior de mercados do Western Union, Joe Manimbo. A moeda americana subiu ao maior nível em seis semanas ante a libra e o dólar canadense, na medida em que os dirigentes do Fed sinalizaram antecipação da alta de juros, em meio à preocupação de que a inflação alta nos EUA pode demorar mais tempo para se dissipar.
As mesas de operação monitoraram ainda a votação no Senado da Medida Provisória que abre caminho para a privatização da Eletrobras. O diretor de um banco de investimento destaca que há algum tempo não se contava com essa possibilidade de venda da estatal, mas agora já faz parte do cenário-base do banco, o que pode trazer capital estrangeiro ao Brasil. Ele também ressalta que haverá grandes ofertas de ações até o final de julho, para aproveitar a atual janela de captação antes das férias de verão no Hemisfério Norte, que podem movimentar R$ 15 bilhões, dos quais perto de 30% a 40% de capital estrangeiros.
Na próxima semana haverá a precificação de duas ofertas subsequentes: a da EcoRodovias, no dia 22, que pode movimentar R$ 1,8 bilhão, e a do Banco Inter, dia 24, que pode girar R$ 5,5 bilhões. Há ainda algumas emissões externas de títulos de dívida para sair, ressalta este executivo. A perspectiva melhor para a economia em meio ao avanço da vacinação, com a média diária superando 1 milhão de doses, ajuda a tornar empresas brasileiras mais atrativas aos investidores, ressalta ele.