Estadão

Resultado de junho indica que há choques mais permanentes dentro da inflação

O resultado da inflação de junho de 0,53%, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou abaixo da variação de maio (0,83%) e da expectativa do economista da LCA Consultores, Fabio Romão. Esse arrefecimento no índice geral, no entanto, não reduziu sua preocupação com o quadro inflacionário para os próximos meses. O núcleo de inflação, formado pelos preços que realmente pressionam o indicador de forma duradoura, continuaram elevados, apesar de o índice geral ter perdido força. Para julho, o economista acredita que a inflação suba para 0,73% e atinja 8,75% em 12 meses. A seguir os principais trechos da entrevista.

<b>Surpreendeu o resultado de 0,53% do IPCA de junho?</b>

Eu esperava 0,63%, mas veio abaixo, foi 0,53%. Filtrando os dados e olhando para a média do núcleo, o resultado do núcleo foi muito parecido com o mês anterior. Em junho, o núcleo ficou em 0,55% e havia sido 0,54% em maio. Em ambos os casos, o nível dos núcleos é alto e preocupante.

<b>O que os núcleos sinalizam?</b>

Os núcleos expurgam os fatores pontuais da inflação e mostram o que realmente está pressionando. Em teoria, o núcleo deveria ter desacelerado, mas ficou igual. Isso indica que há choques mais permanentes dentro da inflação. Eu destacaria alguns bens industriais, a alta da energia elétrica e até mesmo da alimentação. Em maio, a alimentação subiu 0,44% e, em junho, 0,43%.

<b>Sazonalmente, a alimentação é perto de zero em junho. Alimentação continua atrapalhando, mas não no mesmo nível do segundo semestre do ano passado.
Qual a sua projeção da inflação para julho?</b>

Deve ir para 0,73% e, em 12 meses, para 8,75%. São taxas altas. A inflação de julho vai ser pressionada pela superbandeira vermelha de energia elétrica, o reajuste da gasolina e do diesel e a alimentação também deve vir mais pressionada (0,48%).

<b>Quais são as implicações de a inflação estar concentrada em itens de consumo obrigatório?</b>

Que vamos fechar acima do teto da meta neste ano. O que o Banco Central está fazendo ao subir juros é mirar a inflação do ano que vem.

<b>Essa alta vai ter impacto no consumo?</b>

No caso da energia elétrica, mesmo quando o preço sobe, o consumo não cai tanto. A ideia do governo ao subir a tarifa é mitigar o consumo e evitar o racionamento.

<b>Qual é o impacto na atividade?</b>

Neste ano, o PIB (Produto Interno Bruto) foi revisto para cima muito por conta da base fraca de comparação. Mas, evidentemente, pode acabar segurando a atividade em 2022. Boa parte do mercado, ao mesmo tempo em que subiu o PIB de 2021, reduziu o de 2022. Isso tem a ver com o movimento célere da política monetária por parte do Banco Central, de chegar com a Selic em 7% em dezembro.
Essa alta dos juros pode tirar PIB de 2022. O reajuste da energia elétrica tem impacto direto na conta de luz e também reflexos na formação de grande parte dos preços. É problemático, sim.

<b>Há descontrole na inflação?</b>

Haveria descontrole se a perspectiva fosse fechar 2022 com uma inflação muito alta. Não é o caso. A expectativa do mercado captada pelo Boletim Focus, do BC, aponta para uma inflação de 3,7% no ano que vem.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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