Depois de quatro pregões seguidos de queda, com perdas acentuadas nas duas últimas sessões, o dólar avançou nesta quinta-feira, 26, escorado no fortalecimento global da moeda norte-americana, em meio à expectativa pela fala do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, na sexta-feira no Simpósio de Jackson Hole. Também jogou contra o real a cautela dos investidores locais, que monitoram os impactos econômicos da crise hídrica e as negociações em torno da questão dos precatórios.
Com mínima R$ 5,2189 e máxima a R$ 5,2673, registrada à tarde, o dólar à vista encerrou o pregão a R$ 5,2568, em alta de 0,87%. Apesar do avanço nesta quinta, a moeda norte-americana acumula queda de 2,38% na semana. Em agosto, o dólar registra leve alta, de 0,90%.
Nas mesas de operação, a avaliação é a de que a moeda brasileira, mesmo perdendo um pouco mais que outras divisas emergentes, até que teve um desempenho razoável. A percepção no mercado é que as altas taxas de juros internas já atraem capitais para a renda fixa e diminuem o fôlego do dólar, ao tornar mais custoso o carregamento de posições contra o real por parte de investidores locais. Isso impediria uma deterioração rápida e acentuada da taxa de câmbio, mesmo em dias negativos no exterior.
Lá fora, a sessão foi marcada por aversão ao risco, com perdas das Bolsas em Nova York e do petróleo. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes – avançava mais de 0,20% e operava acima da linha dos 93 pontos.
Discursos duros de três dirigentes regionais do Federal Reserve – Robert Kaplan (Dallas), Esther George (Kansas City) e James Bullard (St. Louis) – a favor do início da retirada dos estímulos monetários nos próximos meses colocaram os investidores na defensiva e aumentaram as expectativas para a fala do presidente do BC americano em Jackson Hole.
O CIO da Legend, Rodrigo Santin, não espera que Powell mude o tom das últimas comunicações do Fed, de que há uma melhora na economia e se estuda o início da retirada de estímulos monetários nos próximos meses. Ele considera natural, porém, que o mercado reduza as posições em ativos de risco à espera da fala de Powell, já que sempre existe a possibilidade de uma mudança de discurso. "A direção do dólar hoje está sendo definida pelo exterior. Esse movimento é um pouco mais intenso aqui uma questão mais técnica, já que o mercado está mais sensível por causa dessa bagunça toda na política", afirma.
O sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, descarta uma "ruptura" nos mercados na sexta-feira, já que espera uma fala cautelosa do presidente do Fed. "O discurso de Powell ainda será de espera , ou seja, a redução da compra de títulos deverá ser adiada para a próxima reunião de setembro, com o Fed tendo acesso aos números da inflação e emprego de agosto", afirma Velho, que vê um suporte para a taxa de câmbio de R$ 5,22 no curto prazo, com a perspectiva de mais altas da taxa Selic e o fluxo cambial positivo beneficiando o real.
Em relatório, o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, afirma que, caso Powell indique que não terá pressa em reduzir as compras de ativos, haverá uma rodada de queda do dólar, com a taxa de câmbio indo em direção a R$ 5,15.
Apesar da diminuição dos temores quanto a uma degringolada da taxa de câmbio, não se vislumbra, porém, uma rodada de apreciação do real, já que a questão fiscal permanece no radar. Ainda se busca uma solução que acomode o pagamento de precatórios e o reajuste do Bolsa Família (rebatizado de Auxílio Brasil) dentro da regra do teto de gastos. Também não estão descartados novos solavancos na crise político-institucional, em meio à expectativa para as manifestações do dia 7 de setembro.
O <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) apurou com fontes que integrantes dos três Poderes costuram uma solução para os precatórios, com a eventual criação de um sublimite para a despesa com dívidas judiciais. A ideia é partir do valor dessa despesa em 2016 (R$ 30,3 bilhões) e aplicar a mesma lógica de correção do teto de gastos, isto é, atualizar o limite pela inflação de 12 meses.
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou no período da tarde desta quinta-feira que a Proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2022 será enviada ao Congresso prevendo o pagamento de R$ 90 bilhões em precatórios, caso uma solução não seja aprovada até o dia 31 de agosto. "Ou seja, vai desaparecer o dinheiro todo. Se não tiver sido resolvida ainda essa questão dos precatórios, será um dia depois do envio do Orçamento. Todos verão a dramaticidade dessa questão", disse.