Senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid apresentaram, na terça-feira, 31, imagens e extratos bancários que comprovariam, segundo eles, que o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, da empresa VTC Operadora Logística (VTCLog), pagou boletos do ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias.
As transações teriam ocorrido em junho deste ano. O motoboy deveria ter ido à CPI pela manhã, mas o depoimento foi cancelado após o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), lhe conceder o direito de não comparecer à comissão.
A VTCLog é encarregada do transporte de medicamentos e a atual responsável pela distribuição de vacinas no Programa Nacional de Imunizações (PNI). A empresa, que pertence ao grupo Voetur, é investigada pela CPI por supostas irregularidades em contratos com o Ministério da Saúde. Em nota, a VTCLog afirmou que "jamais houve qualquer depósito" da empresa ou de qualquer subsidiária do grupo na conta de Dias.
Duas imagens apresentadas pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), mostram um homem dentro de uma agência do Bradesco, no Setor de Indústria e Abastecimento, em Brasília, em 22 e 24 de junho. Segundo o senador, trata-se do motoboy. Em ambas as datas, afirmou o parlamentar, o funcionário da VTCLog pagou boletos do ex-diretor da Saúde.
Renan apresentou também extratos bancários que somam quase R$ 20 mil, um de 22 de junho, no valor de R$ 6 mil, e o outro de 24 de junho, no total de R$ 13.525,31. Na avaliação do relator, a presença do motoboy no banco, no mesmo dia e hora em que os boletos foram pagos, "comprova verdadeiramente o conluio existente no bastidor do Ministério da Saúde no exato enfrentamento da pandemia".
A cúpula da CPI apontou que os boletos foram emitidos pela Voetur, grupo empresarial que presta serviços de turismo e controla a VTCLog. A comissão reuniu documentos que apontam que a Voetur teria emitido ao menos nove boletos bancários em nome de Dias, um total de R$ 47 mil. Segundo a CPI, as faturas variam de R$ 782,22 a R$ 7,5 mil e têm datas de vencimento entre 18 de maio e 6 de julho deste ano.
Os senadores ainda buscam entender por que o motoboy da VTCLog teria pago boletos do ex-diretor da Saúde. "Nós acabamos de receber indícios veementes de que era o próprio Ivanildo, o motoboy, que pagava os boletos de dívidas junto à Voetur do Roberto Ferreira Dias", afirmou Calheiros. A defesa de Dias afirmou que, por enquanto, não vai se manifestar.
"O que as imagens maldosamente editadas não mostram é que o ex-diretor, assim como milhares de consumidores, é usuário dos serviços da Voetur Turismo, empresa pertencente ao grupo", afirmou a VTCLog, em nota. Segundo a empresa, o ex-diretor "efetuou pagamentos – e não recebeu ou foi beneficiário em suas contas – de qualquer vantagem por parte da Voetur".
A VTCLog declarou que Dias usou duas formas de pagamento, "transferência eletrônica (portanto, rastreável) e pagamentos dele para a empresa em espécie". "Atualmente, há pagamentos em aberto (R$ 20 mil), portanto Roberto Dias está inadimplente e as cobranças foram devidamente protestadas", afirmou. "A Voetur é credora e não pagadora de qualquer recurso ao ex-diretor. Lamentamos a distorção e a precipitação no tratamento de dados tão sensíveis."
<b>Convocações</b>
Sem depoimentos na sessão de ontem, os senadores aprovaram três requerimentos, dois deles diretamente ligados à VTCLog. A CPI aprovou a quebra de sigilo telefônico, fiscal, bancário e telemático da empresa e a reconvocação do motoboy Ivanildo. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) aponta que Ivanildo sacou milhões em espécie para a VTCLog.
Durante a sessão, senadores criticaram a decisão de Nunes Marques. Calheiros classificou como "retrocesso". Randolfe sugeriu que as imagens do motoboy no banco fossem enviadas ao ministro para que ele reconsiderasse a decisão. A CPI entrou com um recurso no Supremo para que a decisão do ministro seja revertida.
O terceiro requerimento aprovado foi o de convocação da advogada Karina Kufa, que defende o presidente Jair Bolsonaro. A data do ainda não foi marcada. O nome de Karina surgiu durante o depoimento do empresário José Ricardo Santana, na semana passada. Ela teria organizado um jantar em sua casa, no qual estiveram o lobista Marconny Albernaz e José Ricardo Santana, que foi secretário executivo de uma comissão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e amigo de Roberto Dias.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>