A inflação para as famílias da classe média e mais ricas deve acelerar neste fim de ano com a alta dos preços de serviços, ao mesmo tempo em que a inflação para as famílias mais pobres deve estabilizar no atual patamar, diz a pesquisadora Maria Andréia Lameiras, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ao comentar os resultados do Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda de agosto.
Divulgado nesta quarta-feira pelo Ipea, o indicador mostrou que a inflação das famílias mais pobres de renda muito baixa e de renda baixa avançou 0,91% em agosto. O principal motivo foi a alta dos alimentos, mais relevantes na cesta de consumo da parcela pobre da população. Com o resultado, a inflação dessas faixas de renda acumula alta de 10,63% e 10,37%, respectivamente, em 12 meses.
Já a inflação das famílias de renda média e alta avançaram 0,87% e 0,78%, respectivamente. A inflação acumulada em 12 meses foi de 9,46% e 8,04% para esses dois grupos. Segundo o Ipea, além do menor peso dos alimentos na cesta de consumo, as famílias de maiores rendimentos ainda se beneficiam de uma pressão menor da inflação de serviços. Porém, esse quadro deve mudar nos próximos meses.
"Esperamos um avanço mais forte dos preços dos serviços neste último trimestre, categoria com maior peso na cesta de consumo das famílias mais ricas, em comparação às famílias mais pobres. Essa aceleração tem a ver com a reabertura de serviços, como na área de lazer, pacotes turísticos, passagens aéreas, e hotéis", disse a pesquisadora, lembrando que esse movimento de recomposição de preços foi percebido em educação.
Nos últimos 12 meses, a inflação das famílias de renda alta já sofreu pressões dos reajustes de 41,3% dos combustíveis, de 30,2% das passagens aéreas e de 12,4% dos aparelhos eletroeletrônicos, segundo o Ipea. A área de recreação também deu os primeiros sinais de pressão: a inflação acumulada desse tipo de serviços avançou de 0,07% em janeiro para 5,3% em agosto, pelo indicador acumulado em 12 meses.
"Existe espaço para reajuste de serviços na medida em que avança a vacinação e recua o número de casos de óbito por covid-19. Os serviços tendem a voltar com força. Existe também necessidade do setor de repassar os custos da energia elétrica. Os serviços são intensivos no consumo de energia", acrescentou a pesquisadora.
Ela lembra que o custo de vida das famílias mais pobres tem sido pressionado pelo avanço de preços dos alimentos e da energia elétrica. "É um movimento que está praticamente esgotado", acredita.
O Ipea considera como renda muito baixa as famílias com rendimento domiciliar inferior a R$ 1.808. As famílias com renda média vivem com R$ 4.506 a R$ 8.956 mensais. Já as famílias com renda alta são as que recebem, somados seus integrantes, mais de R$ 17.764 por mês. Os valores têm como base junho de 2021.