A convergência para uma candidatura única na disputa presidencial de 2022 entre os partidos do centro político é uma possibilidade ainda distante. Incertezas e obstáculos deixaram alargada e congestionada a terceira via. A praticamente um ano da definição do próximo presidente da República, pelo menos 11 pré-candidatos se apresentam para a disputa. Entre eles o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que se filiou ontem ao PSD, e entrou informalmente nessa fila.
Este cenário reflete a movimentação dos presidenciáveis que hoje estão nas primeiras colocações das pesquisas de intenção de voto, a começar pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que trabalha persistentemente por criar condições para a reeleição. Neste ano, Bolsonaro reforçou a agenda de rua com apoiadores – incluindo as motociatas – e, mais recentemente, lançou o Auxílio Brasil, programa social que substituirá o Bolsa Família.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem se dedicado a encontros partidários desde que se tornou novamente elegível por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Com suas condenações na Operação Lava Jato anuladas e seu retorno ao xadrez político, o petista aparece com larga vantagem nas pesquisas, o que obrigou à revisão de estratégias nos campos da direita e da esquerda.
<b>RESPOSTAS</b>
No centro agora congestionado, os candidatos a candidato ao Palácio do Planalto, por sua vez, estão em compasso de espera. Três respostas são consideradas fundamentais para que uma terceira via possa se tornar real: quem vai vencer as prévias tucanas? Sérgio Moro será candidato? Bolsonaro conseguirá estancar sua queda de popularidade e se manter em 2022 como um candidato competitivo?
Da primeira pergunta, ao menos uma definição será dada. Se o escolhido for o governador de São Paulo, João Doria, dificilmente o PSDB aceitará compor uma chapa presidencial que não seja encabeçada pelo partido. Já se o governador gaúcho Eduardo Leite vencer, analistas tratam essa possibilidade como possível e até provável, o que facilitaria o entendimento com outras siglas.
"O resultado dessa disputa definirá os arranjos entre os partidos do centro. Se Leite vencer e aceitar ser vice – o que é, aliás, um anseio de uma ala do partido -, ele abre caminho para que outros nomes façam o mesmo. Doria dificilmente teria a mesma disposição. É nesse sentido que as prévias importam para fora do PSDB", disse a cientista política Lara Mesquita, do Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da FGV-SP.
A definição tucana também pode influenciar outra questão ainda em suspenso: a participação do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro na eleição. Ainda relativamente bem colocado nas pesquisas de intenção de voto, pontuando entre 5% e 10%, de acordo com o cenário, Moro nunca confirmou nem descartou interesse no Planalto. Enquanto deixa a porta aberta para encabeçar uma chapa, o ex-juiz se aproxima de Doria para eventual parceria.
Mesmo que confirme a filiação ao Podemos nos próximos dias, o símbolo máximo da Lava Jato deverá enfrentar uma série de obstáculos para viabilizar uma candidatura presidencial. A começar pela busca de aliados – Moro enfrenta forte resistência no meio político, pois a operação atingiu dezenas de parlamentares que ocupam cadeiras no Congresso.
Para o cientista político Christopher Garman, no entanto, o fator preponderante na definição de uma terceira via com chances de vitória não está nas respostas do PSDB ou de Moro, mas nos índices de popularidade do presidente. "O que falta para o centro ser competitivo é espaço. O presidente precisa se enfraquecer mais para que uma terceira via apareça. Hoje, com a aprovação dele na casa dos 25% a 30%, essas chances são muito baixas. Calculamos que esse patamar precise cair mais dez pontos", afirmou o diretor executivo da Eurasia para as Américas.
Decidido a espremer esse centro e, ao mesmo tempo atrair o eleitorado petista, Bolsonaro aposta suas fichas no Auxílio Brasil, sem levar em conta o ônus econômico que a concessão do benefício pode lhe render, como aumento dos juros e inflação ainda em alta.
Para a economista e colunista do <i>Estadão</i> Ana Carla Abrão, a expectativa de piora na economia pode ajudar na construção de uma candidatura que concentre apoios no centro. "O Brasil sempre reage ao abismo. E estamos à beira dele. Isso, ao mesmo tempo que nos impõe riscos e grandes desafios, favorece o consenso em torno de um nome que se contraponha ao PT e a Bolsonaro. A crise econômica que já chegou e que será agravada pela via populista que o governo agora sinaliza adotar sem pudor, ao mesmo tempo que nos impõe um altíssimo custo econômico e social, favorece o surgimento de uma alternativa", disse Ana Carla.
<b>PALANQUE</b>
Líder nas pesquisas, Lula foca no discurso da retomada econômica e social enquanto trabalha para aumentar seu leque de alianças. O petista ensaia uma guinada ao centro para se mostrar viável ao mercado e atrair o mesmo centro democrático.
É nesse cenário que outros nomes tentam se firmar como opção aos eleitores que rechaçam a permanência de Bolsonaro e a volta de Lula. Ciro Gomes (PDT) já disse que não vai retirar seu nome da disputa. Terceiro colocado em 2018, o pedetista tem o aval do partido para se lançar pela quarta vez à Presidência e, aos poucos, vai montando suas estratégias, com jingle, plano de governo e até marqueteiro contratado: João Santana, ex-PT. O discurso e a imagem têm se adaptado, assim como o arco desejado de alianças, que inclui agora até partidos mais à direita, como o DEM e o PSL.
<b>FILA</b>
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o apresentador de TV José Luiz Datena (PSL) são alguns dos nomes com quem Ciro tem conversado para formar uma chapa. Ainda pontuando nas pesquisas, Mandetta já declarou aceitar ser vice, mas, como Datena, aguarda os rumos que seu partido vai tomar com a fusão com o PSL no novo União Brasil.
À exceção de Ciro, Bolsonaro, Lula e dos tucanos Doria, Leite e Artur Virgílio (também inscrito nas prévias, mas sem chances reais), o desejo de concorrer à Presidência é projeto embrionário para os demais nomes.
Pacheco foi lançado ontem em cerimônia repleta de simbolismo planejada pelo criador e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. O ato de filiação se deu em Brasília, no Memorial Juscelino Kubitschek – mineiro, apaziguador e democrático, assim como o ex-prefeito quer "vender" Pacheco.
O presidente do Congresso vem sendo colocado por aliados como um nome para acabar com a divisão do País e inserir as reformas e planos de desenvolvimento no topo da lista de prioridades almejadas pelos mais diversos setores da economia – assim como JK. É advogado, jovem, agregador e de centro.
Menos conhecidos até o momento pelo eleitorado em geral, outros potenciais concorrentes se lançaram ao Planalto: o cientista político Luiz Felipe d Avila, pelo Novo, e os senadores Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB), a única mulher até agora a demonstrar intenção de participar da disputa presidencial de 2022.
Independentemente do nome, a professora Lara Mesquita avaliou que as alternativas à polarização precisam estreitar o espaço para candidaturas se quiserem oferecer uma opção concreta para o eleitor no ano que vem. "Hoje, o cenário é de dispersão", afirmou.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>