A busca por protagonismo entre os líderes mundiais e o ineditismo de alguns dos acordos fizeram da primeira semana da COP-26, em Glasgow, no Reino Unido, um início promissor das negociações entre os países. Ainda assim, a tensão entre os dois principais emissores de gases do efeito estufa do mundo, Estados Unidos e China, se mantém, o que pode atrapalhar os resultados do que está por vir: o desfecho da Cúpula do Clima da ONU e um de seus pontos principais, a regulamentação do mercado de crédito de carbono.
Paralelamente a isso, o alinhamento do Brasil aos EUA e União Europeia, se não surpreendeu (dada a impossibilidade de manter a mesma postura beligerante adotada desde o início da gestão Jair Bolsonaro) serviu para suavizar a imagem desgastada do País.
Resultados mais concretos das negociações começam a aparecer, de fato, na segunda semana. Ou seja, do promissor ao frustrante, a distância pode ser curta. Ainda assim, alguns resultados até agora são significativos. O acordo internacional de metano, com a adesão de 90 países ao compromisso de reduzir as emissões do poluente (o Brasil entre eles), o comprometimento de 46 nações em abandonar o carvão mineral e a promessa de cem governos de colocar fim ao desmatamento (mais uma vez o Brasil entre eles), foram alguns dos principais pontos.
Além desses, outros anúncios importantes ocorreram: o fundo de US$ 130 trilhões em capital privado que se comprometeu com a transição para carbono zero e as primeiras negociações para viabilizar o fundo de US$ 1 bilhão anuais mantido pelos países ricos e voltados para as nações em desenvolvimento, além da promessa de US$ 1,7 bilhão em financiamento climático para povos indígenas.
<b>Disputa</b>
O acordo do metano começou a desenhar a disputa aberta entre EUA e China. Anunciado na terça-feira, e liderado pelos EUA, mais de cem países assinaram o compromisso que prevê reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, ante os níveis do ano passado. China, Rússia e Índia, ficaram fora da lista.
Embora desapareça mais rápido da atmosfera do que o gás carbônico, o metano tem um potencial de aquecimento cerca de 80 vezes maior. Por isso, reduzir a liberação desse poluente é considerada uma estratégia para acelerar o combate às mudanças climáticas.
Se o mundo esperava que a saída de cena de Donald Trump amenizasse a relação com a China, no plano concreto, as coisas não são tão fáceis. "O que mudou com Joe Biden é que a possibilidade de chegarem a um acordo é mais possível, mas ambos têm um histórico de relação conflitante e problemas internos também para resolver, como a grande dependência do carvão", diz o professor do departamento de Relações Internacionais da UERJ, Maurício Santoro.
Aqui pesam não só a relação conflituosa entre os dois maiores emissores de CO2 do planeta, mas também suas enormes dependências de uma matriz energética poluidora. "É possível chegar a um consenso, mas não é fácil, sobretudo pelos problemas econômicos trazidos pela pandemia", afirma.
<b>Compromisso</b>
A promessa de cem governos de colocar fim ao desmatamento até 2030 foi a primeira ação em Glasgow em que o presidente americano se colocou à frente das negociações, assumindo protagonismo abandonado na era Trump. Esse grupo de nações reúne 85% das florestas do mundo e terá aporte de US$ 19 bilhões de fundos públicos e privados. "Nossas florestas são também o modo como a natureza captura o carbono, tirando gás carbônico (CO2) da atmosfera", disse Biden ao lançar a iniciativa.
<b>Nova era</b>
"Está chegando o momento em que estamos devolvendo o carvão aos livros de história", disse Alok Sharma, presidente da COP-26, no anúncio em que 46 nações disseram que irão abandonar o uso do carvão mineral.
EUA e a China não aderiram ao acordo, mas se comprometeram a não mais financiar projetos baseados no carvão em outros países. "Do ponto de vista dos principais países que fazem uso do carvão é um compromisso ainda muito baixo", diz Maiara Folly, diretora de programas da Plataforma CIPÓ, uma think thank ambiental que está em Glasgow.
<b>Semana decisiva</b>
Para ela, em geral, apesar dos anúncios positivos, os compromissos assumidos pelos países ainda estão abaixo do esperado. Um reflexo disso pode ser visto na negociação para a viabilização do fundo anual de US$ 1 bilhão para o combate às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.
Apesar de os países desenvolvidos terem mostrado vontade de negociar e terem aumentado os valores repassados para esse fundo, nas primeiras negociações o valor não foi atingido. Em contrapartida, as nações mais vulneráveis pediram garantias de que ao menos US$ 5 bilhões estejam disponíveis para os próximos cinco anos.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>