Sem um partido definido e sem palanques competitivos nos principais colégios eleitorais do País, o presidente Jair Bolsonaro poderá depender ainda mais das redes sociais em 2022 do que esteve em 2018. Foi na arena digital que os principais adversários de Bolsonaro avançaram desde a última disputa e diminuíram a distância entre eles no número de engajamentos.
O presidente ainda é, de longe, o político brasileiro com o maior alcance nas redes sociais. No Twitter, por exemplo, ele tem 7,14 milhões de seguidores – é quase a soma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 2,8 milhões; do ex-juiz Sergio Moro (Podemos), que alcança 3,3 milhões; e do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 1,2 milhão.
Bolsonaro também está à frente nas interações, que é a quantidade de comentários, compartilhamentos ou "curtidas" recebidos pelos posts. Neste ano, ele teve 458 milhões de interações, enquanto o petista ficou com 123,2 milhões. A vantagem, porém, já foi bem maior e agora está diminuindo. Em meio à sua intensa atividade digital, o presidente passou a ser investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por divulgar notícias falsas.
A pedido do <b>Estadão</b>, a consultoria digital Bites compilou dados históricos sobre o desempenho do presidente e de Lula, seu principal adversário na disputa de 2022 ao Palácio do Planalto. Ao longo do ano de 2019, Bolsonaro teve 732,8 milhões de interações em seus perfis no Twitter, no Instagram e no Facebook – quase 13 vezes mais do que as 56,6 milhões registradas pelo petista. De lá para cá, a diferença se reduziu de forma expressiva: neste ano, até agora, Bolsonaro teve 3,7 vezes mais interações que Lula.
"A vantagem do presidente Bolsonaro já foi muito maior, como os números mostram. O indicativo que a gente vê aqui é uma recuperação do ex-presidente Lula em função de um entendimento melhor que a militância dele passou a ter do uso de redes sociais. Claramente, a militância de Lula e do PT está se digitalizando. Por isso, essa diminuição da diferença, especialmente no número de interações", disse Manoel Fernandes, diretor executivo da Bites.
<b>MORO</b>
A mesma comparação não é possível no caso do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, embora ele também esteja crescendo com rapidez nas redes. Recém-filiado ao Podemos, Moro tem atuação recente no universo digital. Na última eleição presidencial, em 2018, o então juiz nem sequer tinha presença online: a conta do Twitter, por exemplo, é de abril de 2019. O perfil no Instagram, onde ele soma 2,5 milhões de seguidores, é ainda mais recente: foi criado em janeiro de 2020. Moro não tem uma página própria no Facebook: a maior página sobre ele foi criada por apoiadores, e não é administrada pelo próprio.
Mesmo assim, a presença virtual de Moro tem crescido: em janeiro de 2019, os perfis dele no Twitter e no Instagram somavam 3,1 milhões de seguidores. Hoje, são 5,8 milhões. O número de interações com as postagens do ex-juiz em 2019 ficou em 9,6 milhões – o que é reflexo de um número menor de postagens feitas por ele. Em número de interações por postagem, Moro está à frente do ex-presidente Lula em 2021, mas ainda atrás de Bolsonaro.
"O ex-ministro Sérgio Moro ainda não entrou de maneira muito densa no mundo digital", avaliou Manoel Fernandes.
Segundo o secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto, o crescimento de Lula nas redes se deve à mudança da conjuntura política, com a soltura do ex-presidente e a volta dos direitos políticos dele por decisão do STF. "Em 2019, Lula estava preso (o ex-presidente só deixou o cárcere em 8 de novembro daquele ano) e o PT estava numa situação muito fragilizada, e isso se refletia nas redes sociais."
A mesma tendência de crescimento dos competidores de Bolsonaro foi captada em outro levantamento recente, elaborado pela Quaest Consultoria e Pesquisa. A empresa mineira desenvolveu um indicador chamado Índice de Popularidade Digital (IPD), que cruza diversas variáveis para avaliar a performance de uma figura pública ou marca nas redes num dado momento. A última edição, de 16 de novembro, mostra Bolsonaro "estável", Lula "em alta", liderando a preferência naquele momento, e Sergio Moro em crescimento, inclusive ultrapassando Ciro Gomes.
<b>DINHEIRO</b>
O desempenho de Bolsonaro nas redes sociais foi determinante para o sucesso dele em 2018. Mas outros recursos devem voltar a ter grande peso no ano que vem, diz o cientista político Bruno Carazza. "Se tem uma lição que dá para tirar (da eleição municipal) de 2020 é que a política tradicional voltou. Os partidos que se deram bem foram justamente os partidos bem estruturados. E sobretudo dinheiro", disse. "Com o aumento dos fundos partidário e eleitoral, você tem muito mais condições de fazer campanha, inclusive nas redes. Campanha nas redes não é de graça. Impulsionar conteúdo é caro. As redes se tornaram um palco muito importante, mas são apenas um dos componentes."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>