O primeiro-ministro de extrema-direita da Eslovênia, Janez Jansa, perdeu a eleição nacional do país neste domingo, 24, para o partido centrista Movimento pela Liberdade, liderado por Robert Golob. Com 99,68% dos votos apurados, o partido de Golob obteve 35% dos votos, contra 24% do Partido Democrata Esloveno (SDS), de Jansa.
A derrota impede um quarto mandato do atual primeiro-ministro, que reconheceu a derrota neste domingo. Ele ressalvou, no entanto, que o SDS obteve mais votos do que nas eleições anteriores. "Os resultados são o que são. Parabéns ao vencedor", disse Jansa aos apoiadores.
A vitória do Movimento pela Liberdade, partido criado no ano passado e que estreou nas eleições deste ano, aconteceu no mesmo dia em que o centrista Emmanuel Macron venceu as eleições da França contra Marine Le Pen, de extrema-direita.
Robert Golob, um ex-executivo de uma estatal de energia, fez uma campanha pautada pela transição para a energia verde e fortalecimento do estado de direito e de uma sociedade aberta. O resultado deu 41 dos 90 assentos do parlamento ao Movimento pela Liberdade, contra 27 assentos do SDS.
A participação na votação, na qual cerca de 1,7 milhão de pessoas foram elegíveis para votar, foi de 68%, segundo a comissão eleitoral. Especialistas avaliaram que foi um porcentual acima da média nacional. "O maior vencedor é, naturalmente, o Movimento da Liberdade", disse Peter Mere, analista político. "A Eslovênia está mais uma vez experimentando novos rostos, com pessoas de quem mal ouvimos antes."
Para governar, o partido precisa fazer uma coalizão com os partidos social-democratas e de esquerda, que juntos devem ter 12 cadeiras no parlamento.
Golob, de 55 anos, agradeceu aos apoiadores pela participação histórica por meio de uma chamada por vídeo. "Isso não significa que somos os únicos, significa que as pessoas realmente querem mudanças", disse ele. "Hoje as pessoas estão celebrando, mas amanhã é um novo dia. Amanhã começamos a trabalhar duro para justificar a confiança."
Jansa, o populista de 63 anos que entrou em conflito com Bruxelas sobre as liberdades de imprensa e foi acusado por opositores de minar os padrões democráticos – o que é negado por ele – disse que o novo governo enfrentará muitos desafios e que espera que esteja à altura da tarefa.
<b>Revés para a extrema-direita europeia</b>
Sob Jansa, que foi eleito primeiro-ministro pela terceira vez em 2020, a Eslovênia seguiu o caminho estabelecido pelo líder populista da Europa, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Orban ajudou a financiar os meios de comunicação de direita da Eslovênia para apoiar Jansa e viu no governo esloveno um importante teste para a sua ambição de transformar a Europa em um continente antidemocrático, à imagem da Hungria.
Orban foi reeleito para um quarto mandato na Hungria no início de abril e declarou que a vitória significava uma prova de que "a política democrata-cristã, a política cívica conservadora e a política patriótica" não são "o passado", mas o futuro da Europa.
Essa ostentação, no entanto, se desfez neste domingo na França e na Eslovênia, um membro da União Europeia e da Otan que, sob Jansa, reproduzia muitas das características do sistema cada vez mais autoritário de Orban.
Um relatório divulgado na semana passada pela Freedom House, o grupo de pesquisa de Washington (EUA), colocou a Eslovênia acima da Hungria em seu ranking de países por direitos políticos e liberdades civis, mas disse que, no ano passado, "nenhum país caiu mais do que a Eslovênia". Segundo o relatório, a queda aconteceu porque Jansa demonstrou "intolerância iliberal de toda e qualquer crítica".
Mas, ao contrário de Orban, que não permitiu que armas fossem enviadas para a Ucrânia através da Hungria, Jansa criticou Putin pela invasão russa na Ucrânia. A Eslovênia forneceu armas ao país atacado e, no mês passado, Jansa esteve na primeira delegação de líderes europeus a visitar Kiev para apoiar o presidente Volodmir Zelensky.
Embora tenha seguido Orban na tentativa de controlar a mídia, Jansa nunca conquistou o domínio garantido pelo partido governista da Hungria, o Fidesz. Tampouco conseguiu replicar o sucesso de Orban em implantar uma corrupção sistêmica, que em grande parte fundiu os interesses econômicos de empresários privados com os interesses políticos do Fidesz na Hungria. (Com agências internacionais).