Estadão

Ibovespa reage mas não consegue sustentar recuperação pós-ata do Fed

Evento mais aguardado do dia, a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) – <i> hawkish </i> mas em linha com o esperado – chegou a colocar o Ibovespa no limiar mais baixo dos 110 mil pontos, em queda em torno de 0,5%, enquanto Dow Jones e S&P 500 mostravam indecisão e o Nasdaq limitava ganhos. O que prevaleceu, contudo, ao menos lá fora, foi a visão do copo meio cheio: o viés restritivo da política monetária americana está aí, mas sem surpresas adicionais na tarde desta quarta-feira que cortassem a demanda por ações em Nova York, onde o S&P 500 fechou em alta de 0,95% e o Nasdaq, de 1,51%, com as três referências renovando máximas da sessão após a ata.

Após retomada que chegou a devolvê-lo aos 111 mil pontos no melhor momento da tarde, ao final o Ibovespa mostrava estabilidade aos 110.579,81 pontos, em esvaziamento que impediu a quinta alta consecutiva do índice. Aos 111.006,05 pontos na máxima da sessão, atingiu o maior patamar intradia desde 29 de abril (111.819,21). O nível de fechamento desta quarta-feira, por sua vez, parecia que seria o melhor desde 22 de abril, então aos 111.077,51 pontos, antes de o índice perder força perto do encerramento e ficar no zero a zero.

Fraco, o giro de desta quarta foi de R$ 23,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 1,93%, elevando o ganho do mês a 2,51% e o do ano a 5,49%. Nesta quarta, saiu de abertura a 110.579,87 e chegou, na mínima, aos 109.699,18 pontos.

"Opinião (do Fed) está bem direcionada, uniforme, para que levem a taxa de juros para território mais restritivo, priorizando o combate à inflação, ainda que mencionem risco à atividade", diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, que aguarda aumentos de 0,5 ponto porcentual a cada reunião de política monetária do Fed até o fim do ano, encerrando 2022 a 3,5%. "O ritmo de 0,5 ponto ficou bem claro nesta ata, alinhando as expectativas do mercado e mostrando que não há opiniões divergentes por lá, no Fed, quanto a isso. Veio bem em linha a ata com relação ao que os dirigentes vinham dizendo recentemente", acrescenta.

"A sinalização do Fed, na ata, foi de aumento de 0,5 ponto porcentual nas duas próximas reuniões, em junho e julho, para tentar segurar essa inflação desenfreada por lá, a maior dos últimos 40 anos. O discurso inicial, do Fed, era de que a inflação seria passageira. Aos poucos foi ajustando o discurso e agora mostra que a política monetária precisará ser um pouco mais apertada, o que já vinha afetando as ações, especialmente as do setor de tecnologia nos Estados Unidos", diz Welington Filho, especialista em renda variável da Blue3.

Na ata, o Fed observa que será necessário gerir risco nas decisões monetárias, e que será importante avançar rapidamente para política monetária mais neutra (nem estimulativa, nem restritiva). Mas a instituição ressalva que "postura restritiva pode ser necessária, a depender das perspectivas futuras". O documento observa também que a perspectiva econômica continua "altamente incerta".

A recuperação pós-ata não se firmou na B3 em razão do desempenho negativo das ações de grandes bancos (Unit do Santander -2,62%, Itaú PN -1,80%), segmento de maior peso no índice. Entre as blue chips, Petrobras (ON +2,03%, PN +1,42%) e Vale (ON +0,31%) subiram, em dia no qual o desempenho do Ibovespa foi liderado por Via (+6,27%), MRV (+3,83%) e Sul América (+3,65%), com Banco Inter (-6,43%), Banco Pan (-5,28%) e Americanas ON (-4,33%) segurando a ponta oposta.

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