O bloqueio dos bolsonaristas no km 110 da rodovia Raposo Tavares foi suspenso no fim da tarde desta quarta-feira, 2, depois de negociações entre os líderes da manifestação e a Polícia Militar. Às 19 horas, todas as faixas das pistas expressas e marginais estavam desobstruídas e o trânsito fluía normalmente. Um pequeno grupo de manifestantes permanecia na margem da rodovia, sem interferir no tráfego.
O bloqueio que aconteceu no km 8 da rodovia Senador José Ermírio de Moraes (Castelinho), principal ligação de Sorocaba com a rodovia Castelo Branco, também foi suspenso. No km 115, da Castelo, em Boituva, a PM teve de usar a tropa de choque para retirar os manifestantes da pista. Os policiais usaram um veículo lançador de água, um blindado e bombas de gás lacrimogêneo, mas ninguém se feriu.
Terminou também o bloqueio na rodovia de acesso ao Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas. Na rodovia Santos Dumont, permanecia bloqueada parcialmente, no início da noite, a pista no sentido Campinas. No sentido Sorocaba, o trânsito estava fluindo normalmente.
O prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), chegou a visitar os manifestantes que bloquearam a Raposo Tavares na última terça-feira. Apoiador de Bolsonaro, Manga tirou fotos, rezou com os bolsonaristas e ganhou aplausos após fazer um discurso elogiando o grupo por estar permitindo a passagem dos veículos – o que de fato não acontecia até aquele momento.
Além de barracas do Jeep Clube de Sorocaba, o ponto de concetração ganhou banheiros químicos, instalados pela Pilar Organizações e Eventos. O funcionário da empresa não informou quem havia contratado o serviço. Um guindaste do grupo Salmeron, empresa do setor de energia e reciclagem, foi cedido para hastear uma bandeira do Brasil. Faixas e cartazes pediam intervenção militar pelas Forças Armadas, com Bolsonaro no poder. Em redes sociais, grupos de direita pediram contribuições para bancar a manifestação.
A passagem do prefeito de Sorocaba pela manifestação foi objeto de representação do PSOL sorocabano ao Ministério Público de São Paulo. Conforme o documento, o prefeito foi ao local para dar apoio aos manifestantes, o que configuraria crime. À reportagem, Manga disse que esteve na Raposo como prefeito da cidade, após receber queixas sobre interrupção no tráfego em área urbana.
"Fui verificar se o bloqueio estava afetando pessoas que precisavam de médico e hospital. Presenciamos que estava aberta uma via de cada lado e que a manifestação era pacífica, sem tumulto, sem bebida alcoólica."
Bloqueio de bolsonaristas na rodovia Raposo Tavares, em Sorocaba, aumentou nesta quarta-feira; empresas dão suporte e enviam suprimentos para os manifestantes. Foto: José Maria Tomazela/Estadão
Manga, que é missionário da Igreja Mundial do Poder de Deus, disse que foi solicitado a fazer uma oração e rezou com os presentes. Sobre o discurso e as fotos, disse que o pessoal ficou "radiante" com sua chegada e pediu para fazer selfies. Ele confirmou que à tarde uma das pistas expressas foi liberada pelos manifestantes, após acordo com a Polícia Militar.
A Ordem dos Advogados do Brasil em Sorocaba informou em nota que é considerado crime "atentar contra o funcionamento das instituições democráticas ou do sistema eleitoral" e agentes públicos que participam, incitam ou apoiam as manifestações podem responder por ato de improbidade administrativa".
<b>Apuração conjunta</b>
Os promotores que atuam no inquérito civil aberto pelo Ministério Público de São Paulo para apurar quem está organizando e financiando os bloqueios de rodovias no Estado reuniram-se na noite desta terça-feira, 1, com integrantes do Ministério Público Federal (MPF) para discutir uma atuação conjunta. Isso porque as ações ilegais acontecem em estradas sob jurisdição estadual e em rodovias federais que cortam São Paulo, como a Régis Bittencourt e a Dutra.
Os promotores já têm indícios de que as ações que contestam sem provas a legitimidade das eleições são organizadas por grupos econômicos que desejam a perpetuação do governo atual. O entendimento é de que os bolsonaristas não fazem distinção entre as rodovias estaduais e federais, ocupando-se apenas de provocar uma situação de caos. A força-tarefa do MP expediu pedidos de informações aos órgãos de trânsito do Estado e da capital e às concessionárias sobre as manifestações, incluindo imagens sobre os bloqueios, na tentativa de identificar os participantes.
Já se sabe que as ações foram planejadas com a possível conivência de agentes públicos. Os promotores estaduais e federais pediram, em caráter de urgência, informações aos comandos da Polícia Militar e Polícia Militar Rodoviária de São Paulo, bem como da Polícia Rodoviária Federal que atua em território paulista sobre as ações adotadas para liberar as rodovias. O objetivo é apurar se houve inação ou omissão dos agentes responsáveis pela manutenção do direito de ir e vir e prevenção de novos bloqueios, o que poderia configurar crime de prevaricação – deixar de cumprir dever legal.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que a Polícia Civil as investigações sobre os grupos antidemocráticos que lideram bloqueios de rodovias estão em andamento nas delegacias responsáveis pelas áreas, mas os detalhes serão preservados para garantir a autonomia ao trabalho policial.
<b>Financiadores</b>
Além do MPSP e do MPF, o setor de inteligência da superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no estado de São Paulo trabalha na identificação das lideranças e financiadores dos bloqueios promovidos em rodovias federais de São Paulo. Ao todo, foram registrados 12 bloqueios em estradas paulistas sob jurisdição federal – na tarde desta quarta restavam apenas três. Conforme a assessoria de imprensa da corporação, há indícios de que as ações são coordenadas por grupos, cujos integrantes estão sendo identificados.
As táticas, segundo a PRF, envolve o reagrupamentos dos manifestantes após a ação de desbloqueio para ocupar a rodovia em outro ponto. Os deslocamentos são combinados através de aplicativos de celulares, como o WhatsApp e o Telegram. Também foram identificados manifestantes que se deslocam de um bloqueio ao outro, dando suporte com material, como faixas e alimentos, às ações ilegais. Só a PRF deteve três pessoas suspeitas de incitar os bloqueios, duas na Grande São Paulo e uma no interior.
Em todo o país, até a tarde desta quarta-feira, tinham sido aplicadas 1.992 multas devido aos bloqueios. Desde domingo, 31, a PRF desfez 667 bloqueios, mas ainda restavam 150 pontos de interdição em rodovias de 17 estados.