Os juros futuros chegaram a moderar o ritmo de alta no período da tarde, na expectativa de que a PEC da Transição possa ter nova diluição durante a tramitação na Câmara, mas ficaram voláteis após o comunicado do Federal Reserve e a entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell, alinhados à reação de Wall Street. Terminaram de lado até os vértices intermediários e em leve alta nos longos. O risco fiscal doméstico, no entanto, manteve-se como pilar principal a sustentar a nova abertura das taxas, hoje com a repercussão bastante negativa da mudança na Lei das Estatais, ontem, na Câmara.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou 14,00%, de 14,06% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 encerrou em 13,64%, de 13,65% ontem. A do DI para janeiro de 2027 subiu de 13,35% para 13,45%.
Na quarta sessão de alta consecutiva – quinta, no caso da ponta longa – das taxas, o mercado encontrou espaço para adicionar prêmio à curva, mas após a reunião do Federal Reserve operou ao sabor do vaivém de Wall Street.
Inicialmente, a indicação do comunicado de que aumentos nos juros são necessários para "atingir uma política monetária suficientemente restritiva" e que os dirigentes passaram a prever a taxa mais alta nos próximos ano resultou numa virada para cima nos yields dos Treasuries e o DI acompanhou, acelerando o avanço. Mas os rendimentos voltaram a cair quando Powell disse que os juros já se aproximam do nível restritivo e esperar quedas significativas na inflação e no núcleo em 2023, o que também tirou pressão da curva por aqui.
Nesse contexto, a melhora externa acabou servindo como argumento para um mercado que parecia já exaurido. "É difícil alongar posição nesse contexto, a curva precisaria estar mais uniforme. Ao mesmo tempo, é complicado também tomar nesses níveis, para isso é preciso esperar que o cenário vá piorar muito", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.
Internamente, a aprovação ontem à noite, a toque de caixa, de mudanças na Leis das Estatais pela Câmara abrindo caminho para que Aloizio Mercadante assuma a presidência do BNDES, foi mal recebida, lida como uma alteração casuística para possibilitar indicações políticas a cargos nas estatais na gestão Lula.
O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em entrevista à GloboNews nesta tarde que o BNDES não será mais um banco que vai "atrás do sujeito para emprestar" e que terá com foco estruturar operações. Voltou a destacar que responsabilidade fiscal "é parte" da responsabilidade social e que a nova âncora fiscal, cuja proposta pretende apresentar até o início do ano que vem, pode "impulsionar" o avanço da reforma tributária no Congresso.
Sobre a PEC da Transição, a movimentação em Brasília traz esperança de que o impacto fiscal de R$ 168 bilhões possa ser ainda mais diluído. Líderes partidários se reuniram com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), nesta tarde, na tentativa de costurar um acordo. O PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, vai tentar reduzir de 2 anos para 1 ano o prazo da retirada do Bolsa Família na PEC, além de diminuir o valor da ampliação do teto, atualmente em R$ 145 bilhões.