Estadão

Juros: Taxas sobem com realização de lucros puxada por risco fiscal e IPCA

Os juros futuros fecharam a sessão em alta moderada, mas num ambiente de liquidez fraquíssima, decorrente da ausência de negócios nas bolsas americanas e na Europa. A piora das previsões de IPCA no Boletim Focus, o cenário fiscal desafiador e a dificuldade do governo em conseguir nomes para fechar os ministérios restantes são apontados como os argumentos a estimular a correção das taxas. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,56%, de 13,51% o ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,82% para 12,93%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,89%, de 12,83%.

Feita a ponderação sobre a liquidez minguada, alguns fatores acabaram servindo de motivação para um ajuste, especialmente após as taxas terem fechado em até 100 pontos-base na última semana, na esteira da desidratação do impacto fiscal da PEC da Transição, cujo efeito nos ativos, no entanto, parece ter se esgotado. "Não tem nada de bom no cenário e, sim, o risco de repetirmos a política econômica que já deu errado no governo anterior do PT", afirma a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira, para quem o cenário fiscal segue muito nebuloso. "Está difícil até fazer as contas sobre os custos reais da expansão fiscal", acrescenta.

Em relatório, a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, diz que as despesas totais do governo no ano que vem vão subir dos 18,2% estimados em 2022, para 19,2% do PIB, uma expansão que, numa sequência de oito anos, só ficará atrás de 2020, quando a chegada da pandemia exigiu gastos extraordinários. Embora o aumento esteja limitado, em tese, ao próximo ano, a economista frisa que, na prática, a ampliação de despesas como reajustes de salários e benefícios é permanente.

A piora da percepção sobre as contas públicas também estaria por trás da deterioração das expectativas de inflação a partir do ano que vem no Boletim Focus. Enquanto a mediana de IPCA para 2022 caiu de 5,76% para 5,64%, como efeito do IPCA-15 de dezembro abaixo do consenso, a de 2023 subiu de 5,17% para 5,23%, se afastando ainda mais do teto da meta de 4,75%. A de 2024, ano que ganha cada vez mais importância no horizonte da política monetária, avançou de 3,50% para 3,60%, após oito semanas de estabilidade. Para o IPCA de 2025, a mediana avançou de 3,10% para 3,20%.

A demora do governo em preencher os cargos que faltam nos ministérios e secretarias da área econômica igualmente reforçou a postura defensiva dos investidores. O mercado vê com ressalvas a possibilidade de que o Planejamento seja chefiado pelo economista André Lara Resende que, em artigo publicado hoje no jornal Valor Econômico, critica o aumento da Selic como forma de combater a inflação nos últimos meses, provocada por problemas de oferta e não de demanda, dado o efeito nocivo sobre a dívida pública. "O artigo é assustador", diz Patricia Pereira.

Os nomes de Lara Resende, da senadora Simone Tebet (MDB-MS) e do líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes (PT-MG), seriam os mais cotados para assumir a pasta, segundo apurou o Broadcast Político. Lara Resende foi convidado para a pasta na semana passada, mas não aceitou. Porém, Lula, o futuro ministro da Fazenda Fernando Haddad e Geraldo Alckmin tentam fazê-lo mudar de ideia.

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