Estadão

Juros: DIs curtos refletem IPCA e longos recuam com menor percepção de risco

Os juros futuros tomaram caminhos distintos na sessão desta terça-feira, 10. Enquanto as taxas intermediárias e longas apresentaram baixa firme, em linha com o recuo do dólar e o arrefecimento da percepção de risco, as taxas curtas experimentaram leve viés de alta ao longo do pregão, escoradas no IPCA de dezembro acima do esperado.

Além de digerir os dados de inflação corrente, investidores operaram à espera de sinais sobre as medidas econômicas do novo governo prometidas para esta semana, após resposta enérgica dos Três Poderes aos atos golpistas de domingo, em Brasília. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acompanhando da ministra do Planejamento, Simone Tebet, se reuniu hoje à tarde com o presidente Lula. Na saída da reunião, Haddad se limitou a dizer, porém, que o encontro "foi bem".

Entre os curtos, o DI para janeiro de 2024 subiu de 13,584% para 13,60%. DI para de janeiro de 2025 passou de 12,78% para 12,695%. Entre intermediários e longos, DI para janeiro de 2027 desceu de 12,701% para 12,52%. Já o DI para janeiro de 2029 fechou a 12,62%, de 12,786%.

Segundo o economista da BlueLine Flávio Serrano, as apostas de alta residual da taxa Selic neste ano subiram um pouco no curtíssimo prazo. "O mercado coloca uma chance de uns 30% de alta da Selic em março", diz Serrano. "Mas para frente os cortes ficam mais fortes. Ontem tinha cerca de 200 pontos-base até o fim do ano que vem. Hoje, está em 230 pontos".

Casas ouvidas pelo Broadcast destacaram dinâmica ruim dos núcleos do IPCA e do índice de difusão, embora tenham atribuído parte do resultado surpreendente de dezembro ao efeito pós-Black Friday, em referência as promoções realizadas em novembro. Em todo caso, o indicador de inflação corrente acima do esperado se soma ao aumento das projeções para o IPCA para este ano, 2024 e 2025 reveladas pelo Boletim Focus de ontem.

"Com a perspectiva de mais gasto e fomento ao crédito, como vimos nos governo anteriores de Lula, o mercado já começa a projetar inflação maior", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.

Por ora, a despeito da piora das expectativas, a maioria dos analistas ainda trabalha com um ciclo de corte da taxa básica, hoje em 13,75% ao ano, ao longo do segundo semestre deste ano. A Rio Bravo Investimentos, por exemplo, prevê redução de juros a partir de junho, com taxa em 11,75% no fim de 2023, embora pondere que há riscos de aumento dos juros caso a inflação persista em nível elevado ou as expectativa sigam se deteriorando.

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o resultado do IPCA de dezembro pode desencadear novas previsões de alta da inflação pelo mercado. Ele estima IPCA de 6,24% neste ano, e com viés para cima. "Já projetamos inflação superior a 4% para 2024 e, por isso, a probabilidade de a Selic atingir um dígito até o final deste ano é mínima", afirma Velho, que não espera redução relevante de gastos no "ajuste fiscal de Haddad", mais voltado para corte de desonerações e subsídios.

O Tesouro vendeu hoje 611.800 NTN-B de oferta de 800 mil. O risco para o mercado em DV01 ficou 31% maior em relação ao leilão da semana passada, segundo a Warren Renascença. O órgão também vendeu 821.450 de oferta de até 1 milhão de LFT.

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