Enquanto o governo federal prossegue no levantamento das obras atingidas pela invasão do Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e Congresso, ocorrida na tarde de domingo, 8, já está claro que algumas delas não têm condições de ser restauradas – entre elas o relógio do século 17 do francês Balthazar Martinot, relojoeiro de Luiz XIV, presenteado a d. João VI pela corte francesa e completamente destruído pelos vândalos.
Outra obra danificada foi uma escultura de Franz Kracjberg, Galhos e Sombras, avaliada em R$ 300 mil, que teve galhos quebrados (a escultura usa uma árvore reciclada) e atirados ao piso do Palácio do Planalto. Entre as obras atingidas, a mais valiosa é o painel As Mulatas, do modernista Di Cavalcanti, perfurado em sete pontos, cujo valor estimado é de R$ 8 milhões. O valor dessas obras atacadas supera a marca dos R$ 10 milhões.
No Congresso, o prejuízo contabilizado até o momento chega a R$ 3 milhões. A exemplo do Palácio do Planalto, há na lista do governo peças como um vitral assinado por Athos Bulcão, artista próximo de Oscar Niemeyer que projetou azulejos e decorou prédios inteiros em Brasília, entre eles a capela do Palácio do Planalto. No STF – o prédio mais intensamente atingido pelos vândalos -, os prejuízos causados ao patrimônio público chegam a R$ 4 milhões. Os invasores chegaram a urinar numa tapeçaria do pintor e paisagista Burle Marx, também amigo e colaborador de Niemeyer.
<b>Roubados</b>
Durante os atos de destruição das casas dos Três Poderes, vários objetos valiosos foram roubados e estão desaparecidos – entre eles vasos chineses de porcelana, uma peça rara feita de pérolas e ouro e presenteada pelo ministro do Catar em visita ao Brasil, além de outra peça de ouro cravejada com cristais Swarowski, presente da Câmara dos Deputados da Índia.
Uma peça dada por desaparecida foi recuperada, mas em péssimo estado: A Bailarina, escultura em bronze feita pelo modernista Victor Brecheret dois anos antes da Semana de Arte Moderna de 1922. Avaliada em R$ 300 mil, sua recuperação talvez seja difícil por causa do material usado pelo artista (bronze polido).
A expectativa é que o balanço final das obras de arte atingidas pelos vândalos que invadiram os Três Poderes em Brasília seja concluído até sexta-feira, 13, mas algumas obras já são dadas como irrecuperáveis. Uma delas é a escultura O Flautista, de Bruno Giorgi, avaliada em R$ 250 mil, cujos fragmentos foram encontrados no chão do Planalto.
No Supremo Tribunal Federal, a destruição começou já na área externa com a pichação da escultura que representa a Justiça – uma peça de granito de Alfredo Ceschiatti, de 1961, atacada por um golpista que atingiu a imagem de uma Têmis sentada com a frase "Perdeu Mané", referência à resposta que o ministro Luís Roberto Barroso deu a um bolsonarista que o provocou em Nova York, há dois meses.
O diretor de curadoria dos Palácios Presidenciais, Rogério Carvalho, afirmou, em nota publicada pela Presidência da República, que será possível recuperar a maioria das obras vandalizadas em ataques golpistas em Brasília. Ainda que isso aconteça, o ataque aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na tarde de domingo, deixou cicatrizes na democracia e na cultura brasileira. O Palácio tem em sua coleção um resumo da arte brasileira desde a colônia ao advento do modernismo brasileiro, que coincidiu com a fundação de Brasília (Volpi, Bonadei, Djanira, Milton Dacosta, Maria Leontina, Maria Martins, Portinari).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>