Muitos Brasis se encontram no carnaval de rua de São Paulo: o dos passistas pernambucanos com sombrinhas de frevo, o dos dançarinos amazonenses de toadas dos bois Caprichoso e Garantido, o da cantora baiana de sucessos do axé, o do grupo de brasilienses que só toca rock e o da bateria de samba carioca. Manifestações culturais de diferentes regiões do País estão presentes em parte dos mais de 480 desfiles de blocos de rua confirmados na folia paulistana, que se estende até o dia 26.
"O carnaval de rua é uma oportunidade de abrir espaço para outras pessoas conhecerem essa cultura", diz Adão Modesto, um dos fundadores do BumbaBloco. A agremiação foi fundada por admiradores do Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas, e também desfilou em 2020. "A gente queria brincar disso por mais tempo, e divulgar", justifica.
O desfile reunirá artistas de boi-bumbá, como a banda Canto da Mata e o cantor Wanderson Rodrigues, ligados ao Boi Caprichoso, mas que também interpretarão as canções (toadas) do Garantido. Como é tradição parintinense, as apresentações serão acompanhadas por coreografias interpretadas por dançarinos com vestimentas folclóricas da Amazônia.
O Nordeste também está presente no carnaval paulistano. Alguns misturam referências de mais de um Estado, como o Na Manha do Gato e o Bloco Elástico, enquanto outros são mais localizados, fundados tanto por imigrantes quanto por fãs paulistas.
Uma das presenças mais fortes é a pernambucana, com blocos como Olha o Sucesso, Fervo da Vila, Bloco de Pífanos de São Paulo, Maracatu Bloco de Pedra e Bicho Maluco Beleza, do cantor Alceu Valença. Há ainda o desfile do Galo Madrugada, que levará novamente dois trios elétricos até o Parque do Ibirapuera.
"É uma amostra. No Recife, o desfile tem 30 trios", descreve Rômulo Meneses, presidente do Galo. "A gente leva a representação, com passista de frevo, caboclinho, figuras indígenas do maracatu, caboclo de lança, que outro tipo de maracatu folclórico do carnaval de Pernambuco. E também cantores convidados de outras regiões", acrescenta.
Em São Paulo, o desfile terá apresentação de Fafá de Belém, Gustavo Travassos, além de convidados. Além disso, estarão presentes duas grandes esculturas do galo, com 2,9 metros de altura.
Mais uma referência nordestina forte é a do carnaval da Bahia, principalmente do realizado em Salvador. Blocos com artistas e grupos conhecidos costumam vir a São Paulo, como o Pipoca da Rainha (com Daniela Mercury), o Navio Pirata (BaianaSystem) e o Beleza Rara (Banda Eva).
Também há blocos com referências "soteropaulistanas" feitos por artistas baianos radicados em São Paulo, como define a cantora Denise Diniz, fundadora e vocalista do Bloco Bahianidade. "Foi criado em um movimento para trazer a São Paulo as minhas referências e origens musicais", descreve.
A artista explica que reúne influências do carnaval de Salvador e da musicalidade do Recôncavo Baiano e da Costa do Dendê. "São todas as Bahias que existem em mim", diz.
Há, ainda, a influência mais evidente, do carnaval carioca. Sargento Pimenta, Monobloco, Chinelo de Dedo, Bangalafumenga, Bunytos de Corpo, Fogo & Paixão e outros estão entre os que desfilam há anos também em São Paulo, alguns com oficinas de percussão nas duas cidades. "Cada vez mais o carnaval de São se aproxima em entusiasmo e alegria do Rio de Janeiro", avalia André Schmidt, maestro e diretor do Quizomba. Nos últimos dias, a ligação entre as duas cidades tem virado piada e discussão na internet, especialmente pelo avanço do termo "bloquinho".
<b>Configuração Diversa</b>
Em sua gênese, o carnaval de rua paulistano é o encontro de referências culturais cariocas e paulistas, urbanas e rurais, brasileiras, ibéricas e africanas, do entrudo ao samba de bumbo. "O carnaval de rua surgiu de uma fusão de expressões culturais", diz Guilherme Varella, pesquisador de carnaval e professor na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Chefe de gabinete na Secretaria Municipal de Cultura quando o carnaval de rua foi liberado, em 2013, Varella associa a pluralidade da folia paulistana às características da própria cidade. "É justamente todo o potencial e a pujança da própria configuração cultural de São Paulo, que é muito diversa, muito cosmopolita, conectada a tendências culturais, muito territorializada, muito disruptiva", diz.
O pesquisador aponta que, diferentemente de outras cidades-referência no carnaval, São Paulo é caracterizada por ter uma maior multiplicidade de perfis de blocos. "É um crescimento quantitativo, mas também de representação, por ser qualitativamente diferente", afirma. Além disso, desfilar em São Paulo passou a ser atraente para o setor cultural de outros Estados. "Elementos carnavalescos alheios à própria cidade aqui são absorvidos como entretenimento."
<b>Chuva</b>
A forte chuva que caiu no centro de São Paulo no início da tarde deste sábado, 18, atrapalhou a dispersão e a concentração dos blocos de carnaval. Pontos de alagamento dificultaram o fluxo dos desfiles pelas ruas.
A situação atingiu ao menos dois megablocos. Com o início do temporal, o cortejo do Tarado Ni Você foi encerrado com cerca de 15 minutos de antecedência, e a uma quadra do fim do trajeto, que seria encerrado no Largo do Paiçandu. Parte dos foliões do bloco se abrigou debaixo de marquises e dentro das lojas que permaneciam abertas.
Já o Minhoqueens enfrentou a forte chuva na concentração, iniciada às 12 horas, na Avenida Ipiranga, em frente à Praça da República. Pontos de alagamentos se formaram especialmente em esquinas, dificultando o fluxo nas calçadas.
Neste domingo, 19, a previsão é novamente de predomínio de céu nublado e chuva em praticamente toda a cidade.
<b>Programação</b>
Bloco Bahianidade
Domingo, às 10h, na Rua Rui Barbosa, 658.
Galo da Madrugada
21 de fevereiro, às 9h, na Avenida Pedro Álvares Cabral.
BumbaBloco
25 de fevereiro, às 14h, na Rua Viri, na subprefeitura Santana/Tucuruvi.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>