Os juros futuros fecharam entre a estabilidade e leve alta. O mercado de juros até tentou, a partir do alívio na curva dos Treasuries, corrigir parte do estresse que jogou as taxas ontem para cima, mas a queda vista pela manhã se esvaiu na segunda etapa. Acabaram prevalecendo os riscos domésticos, principalmente o desconforto com a pressão que o governo voltou a fazer para que o Banco Central (BC) reduza os juros a partir do resultado ruim do PIB do quarto trimestre, num dia sem novidades no noticiário e agenda esvaziada.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,38%, de 13,34% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,79% para 12,85%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa estável em 13,18% e a do DI para janeiro de 2029 também manteve-se em 13,55%.
Enquanto a Bolsa, e de forma mais moderada, o câmbio acompanharam a melhora do apetite ao risco no exterior, com seus pares tendo bom desempenho, na curva local o forte recuo dos yields dos Treasuries – a taxa da T-Note voltou a ficar abaixo de 4% – conseguiu influenciar as taxas praticamente só pela manhã. À tarde, as taxas operaram basicamente de lado, e com viés de alta no fim da sessão especialmente nos vencimentos de curto e médio prazos, uma vez que a entrevista do presidente Lula fez uma espécie de sombra ao exterior durante todo o dia.
Lula voltou a criticar a taxa de juros de 13,75% e também ao trabalho do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que, para o presidente, "tem que pensar como reduzir a taxa de juros".
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, diz ter estranhado a melhora da curva americana num dia de ISM de serviços ainda forte e discursos hawkish de dirigentes do Federal Reserve, mas vê o mercado doméstico fragilizado pela postura do governo. "Teremos de ter um belo arcabouço fiscal para atenuar as pressões e melhorar o balanço de riscos do BC", disse. Ontem, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a pasta vai concluir esta semana os trabalhos sobre a nova âncora.
O mercado teme que com a antecipação da nova regra, que o governo diz querer apresentar antes da decisão do Copom, no dia 22, cresça a pressão para um corte de juros, num momento em que as expectativas de inflação ainda muito pressionadas no avalizariam tal movimento. "O efeito da apresentação do arcabouço não será automático nas estimativas. Os analista vão se debruçar e olhar se faz sentido e o BC vai observar se há impacto nas expectativas", disse Lima.