Além de consolidar o Partido Colorado no poder do Paraguai neste domingo, 30, ao eleger Santiago Peña como presidente pelos próximos cinco anos, os paraguaios deram maioria confortável para o partido em ambas as casas legislativas e nas eleições para governadores. A vitória esmagadora do partido governista surpreendeu frente à crescente insatisfação da população com corrupção e pobreza.
No Congresso, o Partido Colorado, cujo nome oficial é Associação Nacional Republicana (ANR) recebeu 49 das 80 cadeiras em disputa, segundo cálculos do ABC Color com base nos dados da Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares (Trep) do país. No Senado, o partido teve 43% dos votos, contra 23% para a Concertação Nacional do opositor Efraín Alegre, e 11% da Cruzada Nacional, do ultradireitistas Payo Cubas. Isso dará 23 das 45 cadeiras ao partido governista na Câmara alta. Além disso, o Colorado ficou com 15 dos 17 cargos de governadores estaduais em disputa neste pleito.
O Partido Colorado amplia assim sua hegemonia política na nação sul-americana, que governa desde 1947, mesmo com o apoio político do ditador Alfredo Stroessner (1954-1989). O partido governou o Paraguai durante a maior parte das últimas sete décadas, sob a ditadura e sob a democracia, com uma breve interrupção durante o governo do esquerdista Fernando Lugo (2008-2012), que sofreu um impeachment um ano antes do fim de seu mandato.
A vitória esmagadora do partido foi vista com surpresa por analistas, em um contexto regional em que partidos governantes sofreram derrotas significativas nos países vizinhos frente a aumentos inflacionários e após as respostas à covid-19. Nas previsões, o resultado presidencial era considerado imprevisível, com chances reais de Alegre derrotar o partido titular. Mas as projeções não se refletiram nas urnas.
<b>Legitimidade</b>
"Um resultado inesperado, muito inesperado. Acho que até os membros do Partido Colorado estão chocados com uma margem tão ampla", disse o consultor político Sebastián Acha. "Isso dá a Santiago Peña uma legitimidade enorme pelo tamanho da diferença e isso torna a vitória de Peña indiscutível."
No fim, Santiago Peña, um economista de 44 anos, levou 43% dos votos contra 27% detidos por Efraín Alegre. Liderada por Alegre, a coalizão de oposição estava otimista de que conseguiria ganhar votos devido à insatisfação generalizada com os altos níveis de corrupção e falhas nos sistemas de saúde e educação, que ocuparam o centro das atenções durante a pandemia de covid-19.
"Os colorados, na adversidade, sabem superar os obstáculos para se manter no poder", disse à AFP Roberto Codas, analista político e econômico da consultoria Desarrollo Empresarial. "Neste caso, Payo Cubas o ajudou a Santiago Peña, pois ficou como terceira força. Tomou votos de ambos os grupos, mas os mais afetados foram os opositores" do governo, disse.
Ele se refere a Paraguaio Cubas, a grande surpresa destas eleições que despontou como a terceira grande força. O populista de direita conseguiu capturar um número significativo de eleitores não colorados ao receber 23% dos votos, muito acima do esperado. Um resultado atribuído à sua capacidade de capitalizar a insatisfação popular com a política utilizando uma forte mensagem anti-establishment.
Ao todo foram 13 candidatos presidenciais, mas o Paraguai não exige que um candidato presidencial obtenha mais de 50% dos votos, dando a vitória a quem obtiver mais votos.
Os legisladores eleitos devem tomar posse em 30 de junho e já eleger os líderes do novo Senado, para assim poderem tomar o juramento do novo presidente e seu vice, Pedro Alliana, em 15 de agosto, dia da posse do Executivo.
<b>Vitória de Horacio Cartes</b>
Os resultados também pareciam marcar uma vitória do ex-presidente Horacio Cartes, que governou de 2013 a 2018, e que o Departamento de Estado dos Estados Unidos acusou recentemente de estar envolvido em "corrupção significativa" e ter ligações com o terrorismo. Ele negou as acusações, enquanto Peña as chamou de "infundadas".
Em suas primeiras palavras como presidente eleito, Peña agradeceu o apoio de Cartes, seu padrinho político. "Muito obrigado, meu querido presidente da Associação Nacional Republicana, Horacio Cartes. Admiro a imensidão de sua obstinada dedicação ao partido", discursou Peña ao lado do ex-presidente, diante dos aplausos de apoiadores na sede de campanha.
Cartes, um magnata local que também é presidente do Partido Colorado, é uma figura poderosa na política paraguaia e membros da oposição caracterizaram Peña como um meio de Cartes para se manter o poder.
"Quero ser uma ferramenta para você", disse Cartes a Peña após a vitória. "Quero que você tenha certeza de que o Partido Colorado será sua melhor ferramenta."
Peña foi ministro da Fazenda no governo de Cartes e, até recentemente, membro do conselho do Banco Basa, banco local do ex-presidente.
A campanha presidencial de Peña foi prejudicada pelas sanções dos EUA contra Cartes por supostos subornos e laços com o Hezbollah, que Washington designa como um grupo terrorista. As sanções bloquearam Cartes do sistema financeiro dos EUA e cortaram financiamento e empréstimos para a campanha do partido.
Essa conexão tão grande com o ex-presidente poderia prejudicar a governabilidade de Peña, já que o Senado formou nos últimos anos uma força anti-cartista. No entanto, o tamanho da vitória de Peña pode lhe dar certa distância do padrinho político para governar. "Peña agora tem que ver se essa legitimidade o ajuda a se livrar da figura de Cartes, uma figura incômoda em toda essa situação para as relações internacionais. Ele terá que mostrar que pode alçar seu próprio voo", afirmou Sebastián Acha. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)