Ao listar uma série de setores afetados pelo patamar atual da taxa de juros, o secretário de Política Econômica (SPE) da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou nesta quarta-feira, 19, que a manutenção dos 13,75% pelo Banco Central, com a atual taxa de juros real, é "extremamente" descolada do resto do mundo. Segundo ele, o gasto com juros da dívida em 2023 deve chegar a R$ 680 bilhões. Cada ponto porcentual pode corresponder a uma parcela de R$ 40 bilhões, disse Mello em entrevista coletiva sobre o novo Boletim Macrofiscal. De acordo com o secretário, o montante do gasto previsto para o ano é superior que todo o orçamento do governo reservado para ministérios que cuidam de políticas sociais. "É praticamente todo gasto social do País", afirmou Mello.
No início da semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) veio "como o esperado" diante do patamar "muito elevado" do juro real. De acordo com a divulgação feita anteontem pelo BC, a economia brasileira apresentou forte contração em maio. O IBC-Br do mês caiu 2%.
Hoje Mello seguiu essa linha ao criticar a taxa de juros e vincular o patamar aos resultados recentes do nível de atividade econômica. "Isso tem impacto no nível de atividade, em particular a setores mais ligados ao mercado de crédito, como varejo, setor industrial, algumas partes do setor de serviços. Impacta também do ponto de vista das receitas, com menor renda disponível das famílias, menor lucratividade, e a arrecadação tende a desacelerar dada a atividade dos setores, e isso representa impacto na trajetória de endividamento", disse Mello, ressaltando também os efeitos no mercado de trabalho.
Ele voltou a defender que já existem "condições colocadas há algum tempo", como os dados de inflação, que permitem um "processo vigoroso e sustentado" da redução da taxa de juros. "Esse ciclo (de corte) que ainda está para se iniciar da queda de taxa de juros terá uma importância significa do ponto de vista fiscal, econômico, social e no mercado de trabalho", disse Mello, para quem é importante que o País se "aproxime minimamente" dos seus pares internacionais. "Brasil está muito à frente no processo de desinflação", completou.
<b> Condições do mercado de crédito seguem adversas </b>
Mello reforçou a expectativa de o patamar da Selic chegar a 12% ao fim de 2023. Mello endossou declarações de outros integrantes do governo que destacam o juro real do País como o maior do mundo, com efeitos sobre o mercado de crédito, de trabalho, nos gastos públicos com juros, além do impacto na atividade econômica e, portanto, na arrecadação do governo.
"Na Selic esperava-se queda expressiva, podendo chegar 12% em 2023. A expectativa do mercado hoje é bastante diferente da expectativa de dois meses atrás. Há um fenômeno similar nas curvas de juros, com taxa para 30 meses próxima de 10%, bastante inferior a dois ou três meses atrás , disse Mello em entrevista coletiva de imprensa sobre o novo Boletim Macrofiscal.
O secretário destacou a expectativa de a autoridade monetária brasileira iniciar um ciclo de corte da taxa de juros, mas apontou que o País tem um caminho a percorrer nesse segmento. "Desse ponto de vista, a perspectiva de preços e juros é de melhoria daqui para frente, mas temos ainda caminho para avançar", disse Mello, para ressaltar que os juros no patamar atual são um dos fatores que explicam o cenário o comportamento do mercado de crédito, com condições que seguem "adversas".
"Pode-se observar uma queda nas concessões de crédito que remonta desde o final do ano passado, aumento da inadimplência, em especial de pessoas jurídicas, mas também de pessoas físicas", disse Mello, segundo quem o mercado de emissão de debêntures, apesar de ter apresentado melhora em junho, ainda está "bastante contraído". "A recuperação desse mercado em junho se dá em parte pela queda de taxas longas de juros", disse.