Estadão

Ibovespa vai na contramão de NY e sobe 0,72%, aos 118,6 mil pontos

Após série de três perdas, o Ibovespa resistiu até certo ponto à piora de sentimento em Nova York com o comunicado sobre a decisão de juros do Federal Reserve, no meio da tarde, mas não o suficiente para conservar, em fechamento, a marca de 119 mil, vista em boa parte da sessão. Ainda assim, encerrou o dia em alta de 0,72%, a 118.695,32 pontos, entre mínima de 117.846,51 e máxima de 119.615,70 na sessão, com giro a R$ 20,1 bilhões, fraco, antes do Copom. Na semana, o índice ensaiou passar hoje ao positivo, mas ainda cede 0,05% no intervalo, com a perda de força no fim da tarde. No mês, ganha 2,55% e, no ano, sobe 8,17%.

Em Nova York, por outro lado, prevaleceu sinal negativo no fechamento desta quarta-feira, com Nasdaq e S&P 500 em baixa, respectivamente, de 1,53% e de 0,94%. Ao fim, o Dow Jones não resistiu à piora dos outros dois índices, em leve baixa de 0,22% no encerramento do dia, após ter se desgarrado mais cedo, como o Ibovespa.

Na B3, desde a manhã, as ações de maior peso e liquidez operaram no positivo, como Itaú (PN +1,69%) e demais grandes bancos (Unit do Santander +1,10%, BB ON +0,89%, Bradesco PN +0,41%), assim como as dos carros-chefes das commodities, com Vale (ON) chegando a acentuar ganho acima de 1% à tarde, embora limitado a 0,67% no fechamento. O dia foi moderadamente positivo também para Petrobras (ON +0,13%, PN +0,23%), apesar do sinal negativo do petróleo na sessão.

Na ponta do Ibovespa, destaque para o salto de 11,68% para as ações da Azul, com a elevação da recomendação do Goldman Sachs para a companhia aérea, de neutra para compra. A sessão também foi positiva para a outra aérea, Gol, em alta de 6,09% no fechamento, entre CVC (+7,62%) e Alpargatas (+4,74%) nesta quarta-feira. No lado oposto, Pão de Açúcar (-5,93%), Braskem (-4,12%) e PetroReconcavo (-2,38%).

Assim, o Ibovespa, que operava com ganho na casa de 1,3% antes do Fed, reagiu pouco à relativa deterioração de Nova York a partir do meio da tarde, com os sinais emitidos pelo BC americano. Entre os principais fatores para a piora de confiança dos investidores lá fora, os dirigentes do Federal Reserve elevaram as projeções para a taxa básica de juros dos Estados Unidos em 2024 e 2025, no gráfico de pontos ("dot plot"), em relação aos patamares indicados no documento anterior, de junho.

Por outro lado, dentre os 19 dirigentes presentes na reunião desta semana do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve, 13 esperam que os juros básicos cheguem ao fim de 2024 em um nível menor que o atual, de 5,25% a 5,50%, faixa que foi mantida pelo comitê na reunião concluída nesta tarde.

Após a decisão, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, destacou que os efeitos totais da política monetária restritiva, adotada pelo BC americano desde março de 2022, ainda serão sentidos. "Continuamos fortemente comprometidos em atingir a meta de inflação de 2%", reiterou Powell, na entrevista coletiva.

Na avaliação do presidente do Fed, o mercado de trabalho continua forte, mas a demanda e a oferta de vagas estão se ajustando. "Esperamos que o reequilíbrio prossiga", disse Powell. Ele destacou também que dados econômicos recentes indicam que os gastos dos consumidores permanecem robustos nos EUA. O presidente do Fed também apontou que as expectativas de inflação estão bem ancoradas no país e o processo para levá-la à meta, de forma sustentável, tem um longo caminho à frente.

"Powell disse, ainda, que ao chegar no nível suficientemente restritivo de juros, o Fomc deverá manter as taxas nestes níveis por algum tempo. No entanto, ao ser questionado, ele disse algumas vezes que não necessariamente este nível foi atingido na reunião de hoje. Segundo Powell, o Fed está pronto para voltar a elevar os juros se for necessário, e as decisões continuarão sendo tomadas, decisão após decisão", aponta em nota Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.

Em outro desdobramento desta tarde, a mediana das projeções do Federal Reserve para a inflação americana, pelo índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), subiu em 2023 e em 2025, mas se manteve em 2024, na comparação com as projeções realizadas em junho.

"Os olhos do mercado se voltarão, agora, aos números do emprego nos Estados Unidos, que têm sido um fator impactante nas decisões do Fed, dado que o cenário de pleno emprego tem alta correlação com a resiliência de dados inflacionários, visto que o poder de compra dos consumidores segue elevado", observa Guilherme Sahadi, CEO da BullSide Capital.

Nesse contexto, o mercado ainda vê como cenário mais provável a manutenção dos juros do Fed nas próximas reuniões deste ano. Mas o risco de haver pelo menos mais uma elevação cresceu após a decisão monetária do banco central americano, de acordo com dados da plataforma de monitoramento do CME Group.

Por volta das 15h15 (de Brasília), a ferramenta mostrava 68,1% de chance de os juros ficarem estáveis na faixa de 5,25% a 5,50% em novembro. Antes do anúncio, essa possibilidade era de 72%. Já a probabilidade de aumento de 25 pontos-base no período estava em 31,2%, nesta tarde.

O Citi avalia que o Federal Reserve "enviou uma mensagem hawkish sem ambiguidades", em sua decisão desta quarta-feira e em sua comunicação. O banco destaca, em comentário a clientes, que o BC dos EUA continua a prever uma elevação de 25 pontos-base ainda este ano – e que para o Citi deve ocorrer em novembro. Em suas projeções, o Fed trouxe uma alta de 50 pontos-base na mediana do gráfico de pontos para 2024 e também 2025.

"As bolsas tinham amanhecido de forma mais positiva, com leitura sobre inflação no Reino Unido abaixo do esperado, inclusive no núcleo do índice de preços ao consumidor, que exclui itens considerados mais voláteis. A leitura resultou em divisão do mercado sobre a decisão de juros de amanhã, do Banco da Inglaterra", diz Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos.

*<i>Com equipe de Internacional do <b>Broadcast</b></i>

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