Depois de uma manhã marcada por trocas de sinal, em que correu até R$ 5,1783 na máxima, o dólar à vista passou a tarde em leve baixa e encerrou a sessão desta quarta-feira, 4, cotado a R$ 5,1530, praticamente estável (-0,03%). A divisa interrompeu uma sequência de dois pregões de alta, em que acumulou valorização de 2,53% e voltou a níveis vistos em fins de março.
Como nos pregões anteriores, a formação da taxa de câmbio foi ditada pelo mercado global. Dados abaixo do esperado da geração de emprego no setor privado nos EUA abriram espaço para uma queda moderada da moeda americana e das taxas dos Treasuries, em um típico movimento de ajuste depois da arrancada dos últimos dias.
"Depois de um aumento seguido da cotação da moeda, era de se esperar uma pausa para ajustes. O que estamos vendo hoje é um movimento de realização com o exterior. O dólar ainda se mantém fortalecido com essa sinalização de política monetária restritiva nos EUA por mais tempo", afirma o head de câmbio da Trace Finance, Evandro Caciano.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, o índice DXY voltou a trabalhar abaixo da linha dos 107,000 pontos. A taxa da T-note de 10 anos, principal ativo do mundo, recuava cerca de 1% no fim da tarde, ao redor de 4,75%, depois de ter superado os 4,80% na terça-feira, atingindo o maior nível em 16 anos.
A moeda norte-americana recuou em relação à maioria das divisas emergentes e de exportadores de commodities, embora tenha subindo na comparação com dois pares do real, o peso colombiano e o rand sul-africano. O dólar poderia ter caído mais por aqui não fosse o tombo do petróleo, que tirou fôlego do Ibovespa. O contrato do tipo Brent para dezembro fechou em baixa de 5,62%, a US$ 85,81 o barril, em meio a temores de desaceleração da demanda global.
Relatório ADP mostrou que o setor privado dos EUA criou 89 mil empregos em setembro, bem aquém das expectativas (140 mil). Foi um alívio após o resultado do relatório Jolts, que mostrou abertura de 9,61 milhões de postos de trabalho em agosto, bem superior ao esperado. De outro lado, leituras de índices de gerentes de compras (PMI) de serviços nos Estados Unidos vieram dentro do território de expansão.
"O resultado do ADP trouxe um alívio por vir abaixo do esperado, depois do relatório Jolts mostrar abertura muito grande de vagas. Temos uma correção moderada do dólar hoje no exterior. A questão é que o ADP tem vindo muito distante do payroll", afirma o economista-chefe da Análise Econômica e consultor da Remessa Online, André Galhardo, em referência ao relatório oficial de emprego nos EUA, que será divulgado na sexta-feira, 6. "O mercado espera os dados do payroll e, em seguida, de inflação para ajustar a aposta em torno de um ajuste adicional dos juros pelo Federal Reserve neste ano".
Por aqui, investidores monitoram a tramitação no Congresso das medidas do governo para aumentar a arrecadação e tentar cumprir a meta fiscal de 2024. Há possibilidade de que seja votado ainda hoje na Câmara dos Deputados o projeto de tributação de offshores e fundos exclusivos.
Galhardo ressalta que, embora o quadro fiscal doméstico seja muito relevante, o "processo agudo" de depreciação do real nos últimos dias, em especial na terça, é resultado do fortalecimento global do dólar. "O fiscal doméstico importa mais no médio e longo prazo. O dólar não saltou de R$ 5,07 para R$ 5,15 porque o mercado percebeu que o governo pode não entregar o déficit primário zero em 2024. O que mudou foi o ambiente externo", diz Galhardo, para quem o dólar tende a continuar forte no mundo, com a perspectiva de juros altos nos EUA.