O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 16, em alta de 1,61%, cotado R$ 5,2688, após ter flertado no fim da manhã com o nível de R$ 5,29, ao registrar máxima a R$ 5,2875. Foi o quinto pregão consecutivo de avanço da moeda americana, período em que acumulou ganhos de 5,21%. No ano, o dólar apresenta valorização de 8,56%.
A avaliação crescente de que há cada vez menos espaço para cortes de juros nos EUA neste ano provocou nova rodada de alta das taxa dos Treasuries, castigando divisas emergentes. O real sofre ainda com o aumento da percepção de risco fiscal doméstico após sinais de erosão do arcabouço fiscal, que culminaram ontem com anúncio de alteração de metas de resultado primário.
Operadores relatam saída de recursos da bolsa doméstica e aumento da demanda por dólares por parte de estrangeiros no segmento futuro. Mais uma vez, o giro com contrato de dólar futuro para maio foi robusto, acima de US$ 24 bilhões. Dados da B3 mostram que ontem o investidor não residente aumentou a posição comprada em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, cupom cambial e swaps) em quase US$ 3 bilhões, para cerca de US$ 69 bilhões.
Temores de escalada do conflito no Oriente Médio, com eventual revide de Israel ao Irã após ataques a solo israelense no fim de semana, contribuem para a busca por dólares. No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em relação a seis divisas fortes – operou em leve alta ao longo do dia e chegou a superar os 106,500 pontos.
O real apresentou o segundo pior desempenho entre divisas emergentes. As maiores perdas foram do peso mexicano, em movimento da aparente realização de lucros. Até ontem, a divisa mexicana era a única moeda emergente relevante que apresentava ganhos em relação ao dólar no ano.
"O aumento das tensões geopolíticas, que faz investidores procurarem ativos mais seguros, e essa reprecificação do corte de juros nos EUA aumentaram muito a procura pelo dólar. E hoje Powell disse que o corte de juros pode vir mais adiante", afirma o economista e CIO da Medici Asset, Gustavo Corradi Matos, em referência a declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, à tarde.
As taxas da Treasuries avançaram, com o retorno da T-note de 2 anos – mais ligado às expectativas par ao rumo dos juro nos EUA neste ano – renovando máxima (5,007%) justamente em meio à fala de Powell. Ferramenta de monitoramento do CME Group mostrou leve aumento das chances de apenas uma redução de juros de 25 pontos-base neste ano, para pouco mais de 35%.
Em evento, Powell disse que as leituras recentes de inflação sugerem que levará mais tempo para que o BC americano adquira confiança suficiente para cortar os juros. Dada a "falta de progresso" no processo de levar à inflação à meta de 2% seria "apropriado" manter a política monetária restritiva por mais tempo.
Matos, da Medici Asset, observa que o movimento global de fortalecimento do dólar se dá exatamente no momento em que investidores tendem a pedir mais prêmios de risco para carregar ativos domésticos, em razão da piora do quadro fiscal. "O mercado já sabia que haveria mudança da meta, mas há uma reação quando a intenção de mudar se torna realidade. Isso acaba prejudicando o real", diz o gestor, que vê R$ 5,20 como um novo piso para a taxa de câmbio.
Em conversa com jornalistas em Washington, onde participa de reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o ambiente externo explica dois terços do movimento dos ativos brasileiros. "Tem muita coisa que está fazendo com que o mundo esteja atento ao que está acontecendo nos Estados Unidos e o dólar está se valorizando frente às demais moedas", disse Haddad, ressaltando que hoje o peso mexicano sofre mais que o real.