Pressionado a dar respostas rápidas e efetivas à crise econômica, social e sanitária em que o País está mergulhado, o presidente Jair Bolsonaro passou boa parte da conversa que teve hoje com apoiadores criando justificativas para o atraso de seu governo na compra de vacinas contra a covid-19. Bolsonaro disse até que a questão da pandemia no Brasil virou "uma guerra contra o presidente" e desafiou os seus simpatizantes a apontar um só país no mundo que esteja "tratando bem" a questão do combate à doença. "Um dos raros países no mundo onde querem derrubar o presidente é aqui", disse.
"A gente pergunta aí, qual país do mundo que está tratando bem a questão do covid? Aponte um. Todo local está morrendo gente. Agora, aqui virou uma guerra contra o presidente", afirmou a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada nesta manhã de quinta.
Segundo o "Our World in Data", ligado à Universidade de Oxford, atualmente o Brasil ocupa a 11ª posição em número absoluto de vacinados e o 89º lugar, se levado em consideração o porcentual da população que já foi vacinada. O Brasil já registra mais de 285 mil mortes por covid-19.
Bolsonaro disse ter perdido um tio no mês passado, mas, na verdade, era só uma informação para simular uma situação e estimular a pergunta que, segundo ele, já virou rotina. "Foi de covid?", questionou um simpatizante, confirmando a hipótese do presidente. Bolsonaro, então, emendou dizendo que ultimamente "parece que só se morre de covid". Em declarações anteriores, o presidente já questionou e colocou em dúvida o número de mortes pela covid-19.
"Os hospitais estão com 90% das UTIs ocupadas. Agora, o que a gente precisa fazer: quantos são de covid e quantos são de outras enfermidades?", questionou, induzindo os presentes a acreditarem que isso não é feito. As Secretarias de Saúde dos Estados divulgam diariamente dados específicos de covid-19, com taxas relativas à ocupação de leitos voltados para pacientes de covid.
O presidente citou também haver falta de imunizantes para o governo comprar. "Quando eu digo me apresente um país onde está dando certo o combate a covid: não tem. Esses caras que querem me derrubar o que fariam no meu lugar? Ah comprar vacina. Onde é que tem vacina para vender? Onde é que tem?", indagou.
Em mais uma justificativa, sem mencionar o nome do imunizante nem dos laboratórios, Bolsonaro desacreditou a importância das vacinas e fez referência à suspensão em países europeus do uso da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca. Alemanha, França, Espanha, Portugal e Itália suspenderam por precaução a aplicação após relatos de casos de trombose, relação que não está comprovada com o uso do imunizante.
"Tem uma vacina que tem uns dez países que não vão aplicar mais, estão sabendo, né? Aí tem um cara que ligou para mim, um cara inteligente, por que você não compra essa vacina?. Cara, se os países não estão aplicando é no mínimo um lote suspeito. Ah, mas não tem problema. A que ponto chegou a cabeça de algumas as pessoas."
O presidente também citou, sem dizer o nome, uma empresa produtora de vacinas com 20 milhões de doses disponíveis, mas sem ainda ter entrado com a documentação para ter o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Agora, como o mundo está precisando e vacinas por que outros países não compram esses 20 milhões de doses? Por que querem vender para nós, sem certificação, sem nada? Isso é lobby? Comigo não vão fazer", declarou.
Tentando, mais uma vez, justificar o atraso do governo para negociar e adquirir imunizantes, Bolsonaro disse que no ano passado quis comprar, mas não quiserem vender. "No ano passado quando a gente queria comprar a vacina, (disse) eu pago depois que passar pela Anvisa. Ninguém queria vender". Ele afirmou ainda que caso tivesse comprado vacinas que eventualmente não tivessem o registro aprovado pela Anvisa poderia se acusado de "negociata".
O Brasil, porém, começou com muito atraso a negociar vacinas. A vacinação começou este ano apenas com os imunizantes Coronavac e da Astrazeneca, mas em quantidade insuficiente para vacinação em grande escala. O governo federal corre agora contra o tempo para recuperar o tempo perdido e conseguir firmar novos contratos que garantam mais doses ao País.
Na conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que "lamenta qualquer morte". O mandatário também voltou a criticar medidas de fechamento do comércio. Ele destacou o nível de desemprego e que "famílias pobres ficaram miseráveis", além de pioras na educação. "Estamos nos transformando em um país de pobres aqui", disse, ao criticar novamente o fechamento do comércio e o lockdown.