A feijoada tradicional de sábado e o chope gelado (ou a salada e o suco, ao gosto do freguês) tiveram de ser interrompidos pontualmente ontem às 17 horas em São Paulo, de acordo com o limite de funcionamento para bares e restaurantes estabelecido pelo protocolo municipal. Embora o movimento fosse bom, principalmente na zona oeste, a limitação de horário levou a reclamações de proprietários e clientes no primeiro sábado após a reabertura. Houve bares cheios, mas com a obrigação de fechar cedo.
Por causa do horário permitido, entre 11h e 17h, muitos clientes tiveram de mudar hábitos para poder retornar aos bares e restaurantes depois de aproximadamente 120 dias – a reabertura foi permitida na segunda-feira. A empresária Claudia Pessoa, de 51 anos, por exemplo, combinou com os amigos às 13h30, mas só ela cumpriu o horário. "Mesmo assim, foi bom voltar. Estava com saudade disso."
Os bares começaram a fechar as contas das mesas às 16h30. Quinze minutos depois, as pessoas começaram a ir embora. "Acredito que, com todo esse protocolo de segurança, os bares poderiam ficar abertos até mais tarde", diz a professora Roberta Falveno Di Nizo, de 38 anos. Os representantes dos bares concordam. Humberto Munhoz, sócio proprietário de O Pasquim, um dos endereços mais procurados ontem na Vila Madalena, afirma que, ao longo da semana, conseguiu faturar apenas entre 6% e 8% do que seria no horário integral.
"É mais caro abrir parcialmente do que manter o restaurante fechado", avalia o empresário Cairê Aoas, sócio da Fábrica de Bares, empresa que administra dez casas em São Paulo, mas que decidiu reabrir apenas uma por enquanto. "Quando estava fechado, o proprietário até conseguia negociar com os fornecedores", explica.
Questionada pelo <i>Estadão</i> sobre o tema, a Prefeitura informou que "para que a reabertura continue de maneira segura, promovendo distanciamento social, foi definido um protocolo detalhado para a retomada das atividades de bares e restaurantes, estabelecido em comum acordo com as entidades representativas". Como o <i>Estadão</i> relatou ao longo da semana, as medidas de prevenção já foram incorporadas pela maioria dos estabelecimentos. Funcionários com escudo de proteção no rosto oferecem álcool em gel na porta, aferem a temperatura do cliente e aumentam a distância entre as mesas.
<b>Ritmo lento</b>
Na região central, alguns endereços tradicionais ainda nem abriram, como é o caso do Bar Brahma, que só deve retomar suas atividades na próxima semana. As razões são econômicas, aquelas citadas por Cairê Aoas. Mas há outras. O funcionamento do local é prioritariamente noturno.
Outros locais transformaram a reabertura em um acerto de contas com a própria história, resgatando os laços afetivos que unem os dois lados do balcão. Foi o caso do Bar Léo, localizado na esquina das Ruas Aurora e Andradas. Frequentador do bar há 50 anos, o advogado Manuel Paredes, de 74 anos, retornou ontem ao local onde gosta de tomar seu chope com três dedos de colarinho – ali, ele custa R$ 9,40. Para celebrar os 80 anos de funcionamento, os funcionários instalaram balões coloridos na entrada para receber os clientes. "Fiquei emocionado quando vi que ele estava de volta", disse o advogado.
<b>Fiscalização</b>
A reabertura provocou uma mudança significativa na "cara" dos bares. Para evitar aglomerações, o protocolo proíbe a utilização de mesas nas calçadas. "Ficamos restritos", avalia Flavio Pires, de 55 anos, proprietário do Seu Domingos, bar localizado nas esquinas das Ruas Aspicuelta e Fidalga, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Realmente foi estranho perceber a entrada do Pirajá, endereço da Avenida Faria Lima inspirado nos botecos cariocas, sem nenhuma mesa na calçada, sob a árvore frondosa que se tornou sua marca registrada – antes da pandemia, um lugar debaixo daquela sombra era bastante disputado. No salão, todas as mesas estavam ocupadas, mas sem o mesmo charme.
Além disso, o primeiro sábado após a reabertura foi de fiscalização intensa da Prefeitura. Alguns bares não respeitaram e acabaram autuados – 11 só na zona leste. No bar 224, na Pompeia, por exemplo, os fiscais recolheram bancos e mesas na calçada, com auxílio da Polícia Militar. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>