Os fuzileiros navais da Venezuela, uma tropa de elite inspirada nos marines americanos, estão voltando a operar blindados EE-11 Urutu, brasileiros, modernizados. De acordo com o Ministério da Defesa, os veículos de transporte de pessoal serão entregues em lotes até 2021. São mantidos na base da Infantaria da Marinha de Puerto Cabello, no litoral caribenho.
Alguns esquadrões, provavelmente dois deles, devem ser deslocados para exercícios de pré-posicionamento na região próxima das fronteiras com Colômbia e Brasil, corredores de fuga por onde entram nos dois países centenas de refugiados todos os dias. O projeto de revitalização da frota de 37 unidades começou há cerca de quatro anos. Avançou lentamente por causa da irregularidade na liberação de recursos até ser incluído no plano de reequipamento das Forças Armadas, lançado pelo presidente Nicolás Maduro em julho de 2018.
O programa vai custar US$ 25 milhões, segundo o site Army Recognition. O EE-11 Urutu venezuelano, rebatizado VE, foi selecionado em 1983 e contratado um ano depois pelo então presidente Jaime Lusinchi. A encomenda original, de 60 blindados, foi reduzida para 40 e acabou em 38 exemplares. Um foi perdido durante exercício. O EE-11, desenvolvido e fabricado pela Engesa-Engenheiros Especializados, foi exportado para 15 países. O grupo encerrou suas atividades em 1993.
A revitalização está sendo feita por um pequeno consórcio de empresas locais e fornecedores internacionais sob a supervisão de técnicos e engenheiros da Armada Nacional. Nenhuma organização do Brasil participa do contrato.
É um processo longo que implica a recuperação de motores e componentes mecânicos. Os conjuntos óticos analógicos estão sendo substituídos por sistemas digitais avançados, com capacidade de visão noturna. Foram incorporados acessórios eletrônicos de definição de rotas, localização por satélite e comunicações protegidas.
O Urutu é anfíbio. O armamento original padrão de bordo é uma metralhadora 12.7 mm acoplada a uma pequena escotilha superior. Na nova versão, ao menos dois esquadrões receberam um canhão Oerlikon de 20mm. Os fuzileiros bolivarianos são 5,5 mil. Bem treinados e equipados não tiveram os recursos orçamentários comprometidos pela crise econômica que atinge o país – em 2019 a inflação venezuelana chegou a 200.000%.
Para um oficial do Brasil, ex-integrante do Comando Militar da Amazônia, atualmente nos quadros da reserva, "a preocupação (da Venezuela) é com a manutenção da presença e da vigilância na faixa de selva das fronteiras; por lá não tem sentido o emprego de outros tipos de viatura que não sejam as blindadas sobre rodas, leves e rápidas".
<b>Veterano de guerra</b>
O Exército brasileiro tem 223 EE-11 Urutu e mantém um protocolo de recuperação da frota. Gradualmente, os EE-11 estão sendo substituídos pelo Guarani, de 14 toneladas, mais moderno, fornecido pela divisão militar da Iveco Veículo de Defesa, de Sete Lagoas (MG). Criado em cooperação com o Exército, projeto contempla 17 diferentes configurações. A encomenda formalizada é de pouco mais de 2 mil blindados.
O anfíbio da Engesa é um veterano de guerra. Esteve com as forças do Iraque no conflito de oito anos contra o Irã, e mais uma vez com a tropa de Saddam Hussein na invasão do Kuwait. Na rebelião da Líbia, em 2011, e de novo em 2018, na repressão às manifestações armadas dos grupos radicais islâmicos contrários ao governo provisório de Trípoli. Passou por modificações – ganhou uma torre blindada e uma pá dianteira para remover barricadas – antes de ser levado pelo batalhão brasileiro para a missão de estabilização do Haiti.
No continente, é utilizado pelo Exército da Colômbia no combate às duas frentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que não aderiram ao acordo de paz de 2016 e ao Exército de Libertação Nacional (ELN) – o movimento que rejeita o pacto.
O caso colombiano é emblemático. Os assessores militares enviados ao país pelos Estados Unidos a partir do ano 2000 nos termos do Plano Colômbia, de combate ao tráfico e à guerrilha, indicaram a necessidade da criação de um efetivo conjunto de forças terrestres e da aeronáutica, com capacidade de atuação rápida.
A arquitetura final do grupo acabou usando três produtos brasileiros: o EE-11 Urutu, o EE-9 Cascavel – armado com canhão de 90mm -, e o Super Tucano, turboélice de ataque leve, da Embraer. Os veículos, ambos da Engesa, usam a mesma plataforma e a mesma suspensão. Os dois têm bom desempenho em terrenos irregulares. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>