Estamos criando as bases de uma indústria saudável, diz secretário

Responsável pela área do Ministério da Economia que formula projetos e propostas econômicas, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, rebate as críticas de que o governo não tem uma política industrial e está vendo o setor perder espaço sem fazer nada.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o secretário diz que o governo está criando as bases de uma indústria mais saudável e eficiente. "Se nós queremos voltar a crescer acima de 2,5% ao ano de maneira sustentável, nós precisamos da consolidação fiscal e do combate rigoroso à má alocação de recursos", diz.

<b>Críticos dizem governo está vendo a indústria perder espaço sem fazer nada?</b>

Não, não está correto. A política industrial de campeões nacionais acabou. Não existe mais. O que existe agora é uma política muito geral e mais eficiente de combate a má alocação de recursos. Quando isso acontece, o dinheiro vai para o setor onde é mais eficiente. Não é mais o governo que decide onde ele deve ir. A indústria que está sendo construída nessas bases é muito mais sólida que vai estar pronta para a competição. Estamos criando as bases de uma indústria saudável e pronta para competir.

<b>Quais seriam essas bases?</b>

A indústria que está recebendo investimento é aquela mais eficiente. No passado, notadamente até 2016, o governo escolhia setores que iriam ter desoneração. Havia setores que iam receber incentivos, acesso ao crédito subsidiado do BNDES. O investimento que estava sendo feito era aquele que não estava seguindo princípios, a rigor, de mercado, eles estavam sendo direcionados. É natural que algumas indústrias que receberam muitos incentivos tributários no passado, e esses benefícios estão se reduzindo, elas acabam tendo dificuldades. Será que essa não é política industrial mais eficiente? Ela promove as indústrias mais competitivas.

<b>Como a indústria vai se reerguer?</b>

Passo a passo. O dinheiro vai migrar para os setores mais eficientes e sair daqueles menos ineficientes. Alguns setores foram desenvolvidos com incentivos, creditícios, subsídios e de juros propiciados pelo governo. Ou seja, a sociedade inteira pagou para um segmento ter estímulo. Eu pergunto: até quando o povo vai aceitar pagar R$ 1,00 para ter R$ 0,50 de volta. Isso tira o dinheiro de toda a população e devolve para um grupo específico de determinada indústria. Está errado. Acabou.

<b>Muitas indústrias falam que elas não teriam competitividade para brigar por esse recurso que vai buscar alocação mais eficaz?</b>

Claro que tem. Algumas vão receber mais e outras um pouco menos. Agora, as indústrias, o setor de serviço, de comércio, estão competindo pelos recursos. Não só investimento, capital, trabalho. O próprio ministro Paulo Guedes já alertou. Veja a taxa de juros hoje. Ela só foi possível pela nossa política de combate à inflação e ajuste fiscal. Ela ajuda o setor industrial. A questão da taxa de câmbio, que vários empresários por muitos anos, pediram uma taxa com um patamar que é parecido hoje. Isso é resultado de todo o trabalho que foi feito.

O governo vê espaço para fazer uma política, mesmo que horizontal, para dar oportunidades para os setores menos competitivos de ganhar competitividade.
Nós temos que entender que quando o governo ajuda um setor vai ter que tomar de alguém. É claro que existem alguns setores que têm uma curva de aprendizado. Investe um pouquinho nele e no futuro vai dar o retorno. Isso pode acontecer, Temos que fazer uma pergunta honesta: Quais são esses setores? Quanto vai custar?

<b>O Brasil vive um processo de desindustrialização?</b>

O que está acontecendo na minha leitura é que algumas indústrias estão tendo dificuldades e outras surgindo. Quando se olha a participação da indústria no PIB, é comum em qualquer país do mundo. O problema mais importante é o misallocation (má alocação). Esse combate não é só uma pauta econômica. É social. A longo prazo estamos criando as bases de uma economia mais industrializada.

<b>Como o governo vai cortar os incentivos?</b>

A função da secretaria é deixar sempre os custos e benefícios das escolhas claros para a sociedade. Se nós queremos voltar a crescer acima de 2,5% ao ano de maneira sustentável, nós precisamos da consolidação fiscal e do combate rigoroso à má alocação de recursos. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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