Opinião

A fácil arte de desperdiçar dinheiro dos contribuintes

Em uma cidade como Guarulhos, cheia de problemas nas mais diferentes áreas e prioridades a perder de vista, soa para lá de estranho admitir que a Secretaria Municipal de Educação tenha gasto, conforme divulgou com exclusividade pelo Guarulhos Hoje na edição de ontem, R$ 410 mil em um livro sobre a história da região de Bonsucesso. Por mais que o tema seja importante e existam pessoas sérias por trás da edição desta obra, não se pode banalizar desta forma o dinheiro público.


 


Sem querer discutir a importância do livro para a história da cidade, não dá para aceitar passivamente que uma prefeitura utilize quase meio milhão de reais em apenas uma obra literária, sem que se justifique tratar-se de uma prioridade. Ainda mais em um município em que os autores encontram uma série de empecilhos para conseguir patrocínio para seus livros. Muitos são obrigados a mendigar junto à iniciativa privada a fim de obter algum trocado a fim de levar adiante o sonho de editar uma obra de forma profissional.


 


O argumento dado pela Secretaria para justificar a obra é questionável. “O livro nasceu da constatação de que faltava material didático enfocando a história de nossa cidade, o que dificultava o processo de formação de professores e consequentemente a abordagem do assunto em sala de aula”, diz o texto assinado pelo secretário de Educação, Moacir de Souza, que acompanha o livro. Ora, há formas mais inteligentes e baratas de lidar com o dinheiro público. Aliás, o próprio secretário assina um texto no livro e aparece numa foto logo nas primeiras páginas, fato que, de certa forma, lhe garante certa promoção, algo que não deveria ser aceitável por ser pago com dinheiro do contribuinte.


 


Segundo consta no Diário Oficial do Município, a Prefeitura pagou R$ 410 mil por 10 mil exemplares da edição, o que dá a bagatela de R$ 41 por unidade do livro que conta com 120 páginas. Tirando o conteúdo histórico, que deve ter sido baseado em um trabalho de pesquisa, não há nenhum destaque em sua diagramação ou layout que se justifique um valor tão alto por unidade. Obras parecidas contratadas por autores de forma isolada não custam mais do que R$ 18 a unidade. E ainda assim, vale frisar que existem incentivos no Ministério da Educação e Cultura, como a Lei Rouanet, que incentiva a iniciativa privada a investir na produção de obras literárias, entre outras manifestações culturais.


 


Como se trata de dinheiro do contribuinte, seria muito importante que tanto a Câmara Municipal como o próprio Ministério Público Estadual olhem com bastante atenção essa história bem ou mal contada de Bonsucesso. Talvez, tenham muito mais coisas a serem reveladas do que a história desse importante bairro de Guarulhos. O que não pode é o cidadão ser obrigado a pagar uma conta que não é dele, algo que já se tornou comum nesta cidade nesta última década.


 


Se não bastasse tudo isso. Por coincidência ou não, na capa do livro, uma foto em preto e branco traz no poste a inscrição “Lula”, possivelmente de uma campanha eleitoral  nos anos 80 ou 90, no máximo. Sugestivo, não?

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