Estadão

A Filha do Rei do Pântano: suspense traz Daisy Ridley em grande forma após Star Wars

Autor de clássicos contos de fadas, Hans Christian Andersen também escreveu um texto menos conhecido: <i>A Filha do Rei do Pântano</i>, sobre uma menina que não fazia ideia de que é uma flor capaz de salvar seu pai, um rei egípcio, de uma grave doença. Décadas depois, esse texto inspirou a escritora Karen Dionne com sua história homônima, mas situada em um mundo moderno e com situações familiares mais contemporâneas – e que se transformou em filme sob as mãos do cineasta Neil Burger, que estreou na última quinta, 28.

<i>A Filha do Rei do Pântano</i> conta a história de uma mulher (Daisy Ridley, de Star Wars) que é assombrada pela figura de seu pai. O motivo? Ele sequestrou a mãe dessa mulher, que viveu em cativeiro até a filha ter lá seus 12 ou 13 anos. Ele é preso, mas, anos mais tarde, escapa da prisão e se torna uma ameaça à sua família. O que ele quer? Será que tem o desejo de sequestrar a filha novamente? Será que a neta do criminoso está em risco?

<b>Medo pelo ambiente</b>

De tom constantemente tenso, o longa-metragem sabe como criar o ambiente. Apesar da direção exageradamente lenta de Burger, de Divergente e <i>O Ilusionista</i>, o filme deixa qualquer espectador com frio na barriga. É como uma panela de pressão em volta do público, que descobre tudo logo de cara e, depois, é apenas cozinhado até sua conclusão.

Há, sim, um constante clima de familiaridade no que está sendo contado. Apesar da inspiração em Andersen, o longa traz muitos elementos do chamado suspense doméstico – aquela linha de histórias que ganhou força com <i>Garota Exemplar</i> e que a ameaça está dentro de casa. Difícil não fazer paralelos, por exemplo, com <i>Um Lugar Bem Longe Daqui</i>, lançado no ano passado, e que tem o mesmo cenário e uma história familiar trágica.

Parece que falta originalidade em uma história que já se repetiu muito. Pelo menos, porém, há essa tensão crescente (com um final digno para a expectativa criada) e, principalmente, boas atuações. Ridley faz o seu primeiro grande papel após o fim de <i>Star Wars</i>, mostrando que sabe como atuar em silêncio, apenas com olhares e gestos. Reforça, novamente, a injustiça que ronda sua carreira, renegada apesar do bom desempenho na saga Skywalker.

<b>Para arejar o gênero</b>

Mas é Ben Mendelsohn quem rouba a cena: apesar de aparecer menos, consegue dar frio na barriga como uma espécie de psicopata, mas com camadas. Nada daquele homem que é mau por ser mau, que comete crueldades sem pensar duas vezes. Ele é charmoso e tenta conquistar as pessoas ao seu redor. Impacta diretamente na relação do público com o filme.

<i>A Filha do Rei do Pântano</i>, assim, se torna uma boa surpresa do mundo do suspense doméstico que, depois de <i>Garota Exemplar</i>, só decepcionou com <i>A Garota do Trem</i>, <i>A Mulher na Janela</i> e por aí vai. Referencia e reverencia uma obra clássica da literatura, mas também coloca um tom moderno que deixa o espectador preso no que está sendo contado, mesmo com a lentidão exagerada.

Quem sabe, assim, o subgênero ganha uma sobrevida.

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