Cidades

A inocência veste um pijama listrado

Se existem dois temas que nunca secam sua fonte no cinema são vampirismo e holocausto

Perde-se a conta do número de filmes já produzidos envolvendo estes assuntos. Alguns mais clássicos, outros inteligentes e emocionantes e, claro, uma porção de filmes maçantes. Porém o tema ainda nos surpreende quando é bem explorado, como é o caso da adaptação do livro “O menino do pijama listrado” para as telas.


 


Nesta fábula passada durante a vergonha da humanidade – o holocausto –, um menino alemão de nove anos de idade, filho de um oficial nazista, é obrigado a abandonar sua casa e seus amigos em Berlim e mudar-se com a família para uma região desolada, onde não tem nenhum amigo para brincar. Bruno – o menino –, sentindo-se só e entediado, conhece Shmuel, um garoto judeu que mora “do outro lado da cerca” e, conforme viram amigos, vão descobrindo aos poucos – sempre sem entender – o motivo que os separa em mundos tão diferentes.


 


A cerca age como um espelho quebrado eles são praticamente a mesma criança, porém em lados opostos da cerca e da sorte. E ainda, num misto de inocência com inversão de valores, Bruno sente inveja de Shmuel. Aos olhos dele, o menino judeu dispõe de uma vida muito mais alegre por ter companhia em seu “acampamento”, já que desconhece o horror de um campo de concentração.


 


Aliás, isto é um fato corriqueiro, pois a inveja é cega. Quantas pessoas não invejam outra por um padrão de vida sem sequer ter noção do que é ter aquele padrão. Ou pior, se de fato aquilo pode ser considerado um padrão ou até mesmo uma vida. A metáfora do filme é explícita. Nunca sabemos ao certo o que se passa do outro lado, até cruzarmos a fronteira. Bruno atravessa a cerca e, de mãos dadas com seu amigo, conhece um mundo novo, infelizmente não tão divertido quanto previa.


 


Numa espécie de “A vida é bela” inversa, neste caso o pai oficial oculta do filho os atos criminosos que comete e, acima de tudo, as consequências drásticas de uma guerra, diferente do filme de Benigni em que o amor de um pai consegue transformar em brincadeira uma tragédia, salvando assim a integridade física e moral do filho.


 


Com atuações sóbrias, mas de tirar o fôlego – em especial a bela Vera Farmiga, que faz a mãe de Bruno – “O menino do pijama listrado” convence e emociona do início ao fim e deixa a plateia sem respirar nos minutos finais da história. A importância destes filmes, livros ou qualquer outra manifestação artística é não nos deixar esquecer atos tão covardes e cruéis como o episódio sórdido da humanidade que foi o Holocausto.


 


Se há dois socos que o homem deu na cara de Deus um foi a clonagem humana e o outro, sem sombra de dúvidas, foi o Holocausto. A inteligência ariana – o que seria um grande paradoxo – gastava seu tempo ocioso exercitando os poucos neurônios que tinham para elaborar formas mais eficientes de eliminar pessoas, como se fossem insetos. E ainda tem gente nos dias de hoje que cultua este tipo de atitude e faz saudações a Hitler e sua tribo. Se de fato existe um inferno, ele deve estar sendo servido de churrasco desde o dia em que para o bem da humanidade fez o favor de suicidar-se. As chaminés do inferno – assim como as de Auschwitz – devem estar a pleno vapor exalando fumaça oriunda das cinzas destes seres.


 


Assim como as chaminés dos fornos da pizzaria do nosso congresso nacional, que intoxica a nação e cria uma cerca feita de atos secretos que separa os justos dos canalhas egoístas e soberanos. Quem sabe um dia nosso País se torne justo e possamos assim ver a corja política em roupas listradas, com número no peito e uma bola de chumbo amarrada aos seus pés. Quem sabe um dia a fumaça que as chaminés de campos de concentração vomitaram em nossa cara não se evaporem no céu e tragam a chuva para limpar esta humanidade que insiste em se afastar da lei máxima de todo o universo: amar!


 


Maurício Nunes é autor do livro Sob a Luz do Cinestar e também mantém o blog www.programacinelandia.blogspot.com

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