Estadão

Aliados de Lula optam pelo silêncio ou minimizam ato de Bolsonaro no Rio

O ato em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realizado na praia de Copacabana neste domingo, 21, foi ignorado por grande parte de quem faz oposição a ele. Nas redes sociais, governistas e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falaram na manifestação de forma indireta, com memes ou simplesmente não tocaram no assunto. O presidente ignorou o ato bolsonarista – menor do que o primeiro que ocorreu em fevereiro, em São Paulo -, e focou em um tema inusitado: o pássaro joão-de-barro.

A primeira-dama, Janja da Silva, postou um vídeo em seu perfil no X (antigo Twitter) em que o presidente aparece no jardim do Palácio do Alvorada afirmando que se inspirou nas construções do pássaro para o programa de habitação "Minha Casa, Minha Vida", uma das marcas de seu governo. De chapéu e óculos escuros, Lula falou da "sabedoria da natureza" e na "inteligência do joão-de-barro". "A gente quer que toda família tenha um ninhozinho para cuidar das suas famílias com muito carinho e amor", disse Lula, ao afirmar que, até 2026, o programa vai entregar dois milhões de habitações. Lula focou as duas publicações em seu perfil no X em temas econômicos e sociais: uma sobre o programa para renegociar dívidas do Fies, e outra sobre a diminuição da extrema-pobreza no País. Ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha repostou a publicação, dizendo "vocês são incríveis".

O ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Jorge Messias, foi um dos que falou de forma indireta, mencionando outro evento ocorrido no mesmo local do ato de Bolsonaro neste domingo. O ministro usou o X (ex-Twitter) para relembrar a ida do Papa Francisco a Copacabana durante a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, com uma foto mostrando a multidão presente. Na ocasião, cerca de 3 milhões de pessoas receberam o pontífice na principal avenida de Copacabana. O ministro também repostou o vídeo de Lula falando dos pássaros no Alvorada.

Outros políticos governistas focaram na discussão sobre o ato de Bolsonaro ter "flopado" – ou seja, não ter sido bem-sucedido – de forma direta. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) fez três postagens falando sobre o público presente, apontando o número estimado pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), que contou 32.750 pessoas no público do evento. "Chora canalha bolsonarista. MIOU", postou o deputado. O público no Rio foi equivalente a 17% do presente na manifestação na Avenida Paulista, em fevereiro, que reuniu 185 mil, e metade do registrado no outro protesto em defesa de Bolsonaro em Copacabana em 2022, quando 64,6 mil estiveram presentes. No final de março, a esquerda chegou a realizar atos de rua em todo País, convocados pelo PT, mas a marca dos eventos, que não tiveram o endosso do governo, foi o esvaziamento.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) postou um meme utilizando um recorte da fala de Bolsonaro no palanque em Copacabana. Em um vídeo de alguns segundos, o ex-presidente fala: "Vocês podem ter um presidente mais competente do que eu, e que muitas pessoas". O vídeo então termina, com os créditos de uma produção cinematográfica subindo, marca de um tipo de piada feita comumente com situações absurdas ou constrangedoras. Outra deputada federal, Natália Bonavides (PT-RN), relembrou que dia 21 de abril é comemorado o dia do metalúrgico, profissão de Lula. A deputada postou uma foto de Lula jovem, discursando para uma multidão durante a greve dos metalúrgicos de 1978.

Como mostrou o <b>Estadão</b>, o ato deste domingo foi marcado por acusações de parcialidade contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), críticas ao governo do presidente Lula e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e por manifestações de gratidão ao empresário Elon Musk, bilionário dono do X, da Tesla, da SpaceX e da rede de satélites Starlink.

O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e ex-ministro interino do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Ricardo Cappelli, afirmou em seu perfil no X no domingo, em referência ao aniversário de 64 anos de Brasília, que quando a capital da democracia "se mistura com o extremismo político, a gente já viu que não acaba bem". Nesta segunda, 22, ele afirmou que o "grande" discurso político de domingo, no Rio, foi "precisamos de homem com testosterona", o que chamou de vergonhoso.

Foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) responsável pela fala. "Este País não precisa de mais projetos de lei, este País não precisa mais de emenda. Este País precisa de homens com testosterona. É isso que esse País precisa. E eu tenho certeza que é o que esses dois homens (Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, um dos organizadores) representam", disse em seu discurso de cerca de cinco minutos.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT, partido de Lula, fez comentários de maneira enfática e criticou Musk na tarde de domingo. "Se alguém tinha alguma dúvida, o ato de Copacabana escancarou o alinhamento total do bolsonarismo com o dono do X, contra a democracia no Brasil", escreveu. "A `liberdade de expressão` que eles querem é para seguir mentindo e solapando as instituições democráticas. Só não vê quem não quer."

A deputada também chamou Bolsonaro de "covarde" e disse que o significado adequado para a alcunha de "mito" dada por apoiadores a ele é a mais simples de todas: "mentira". "Covarde como sempre, o inelegível segue terceirizando os ataques, cada vez mais insolentes, para o tal Malafaia", afirmou. "E pode esperar sentado, inelegível: não vai ter anistia para golpista nem impunidade para os mandantes", disse, se referindo ao novo pedido de anistia aos envolvidos nos ataques golpistas do 8 de Janeiro de 2023. Em fevereiro, na Paulista, Bolsonaro já tinha pedido o perdão da Justiça aos vândalos que depredaram as Sedes dos Três Poderes, em Brasília.

Houve também quem ignorou completamente o ato dos bolsonaristas e focou em outro assunto. Seguindo o exemplo de Lula, as postagens do ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta, neste domingo, foram sobre assuntos econômicos e sociais, relacionados ao aumento de renda do brasileiro e à redução da tarifa da energia elétrica.

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