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ANÁLISE – Reabertura gradual de comércios em Guarulhos precisa respeitar curva de contágio e não política partidária

Brasil tem particularidades bem diversas daquelas encontradas em países desenvolvidos, onde boa parte da população tem reservas para sobreviver a um período sem trabalhar

Nas últimas transmissões ao vivo, realizadas pelo prefeito Guti (PSD), ele tem deixado claro que entende ser necessária a reabertura da cidade, fechada parcialmente pelo isolamento social imposto por decreto publicado em 19 de março e válido até 23 de abril. Ao mesmo tempo, demonstra que não pode se precipitar, já que os casos de Covid-19 vêm crescendo exponencialmente no município. Em dez dias, o número de mortes triplicou e o de casos confirmados dobrou.

Como precisa dar a linha do que será permitido a partir desta quinta-feira, um novo decreto ou reedição do anterior deve ser anunciado até a quarta, 22. Na cidade, grupos ligados aos setores econômicos se manifestam pela reabertura imediata do comércio, como forma de minimizar os estragos na economia local. Alguns, como o Sincomércio em nota publicada em redes sociais, consideram que a questão da saúde pública é problema do poder público, que precisa encontrar formas para resolver o problema.

Já Guti, que mantém um grupo técnico à sua volta, com a participação direta do secretário municipal de Saúde, José Mário Stranghetti Clemente (médico cardiologista, um dos maiores influenciadores nas decisões do município), vem – desde o início da crise – batendo na tecla que “neste momento a vida é mais importante”. Diz que a economia se recupera, mas vidas perdidas não. Desta forma, é de se prever que a reabertura faseada do comércio, como anunciada na live desta segunda, 20, deve seguir um cronograma muito bem determinado, condicionado à evolução dos casos da doença em Guarulhos.

Para especialistas em saúde pública, os exemplos em outros países do mundo demonstram que não se pode recuar em um momento em que a curva de casos de coronavírus está em ascendência. Porém, reconhecem que o Brasil tem particularidades bem diversas daquelas encontradas em países desenvolvidos, onde boa parte da população tem reservas para sobreviver a um período sem trabalhar. Por mais que a ajuda financeira, tanto para estados e municípios como para cidadãos comuns, tenha que partir do governo federal, os auxílios anunciados até aqui demonstram que não são tão eficazes e atingem somente uma parcela da população. Desta forma, reativar a economia com a reabertura do comércio e permissão da volta de atividades paradas seria o único remédio.

Junte-se a isso o embate político travado entre o governo federal e estaduais, como a escancarada disputa pré-eleitoral entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Dória. Até o momento, Guti se mantém alheio a essas divergências e vem procurando dar uma linha própria em Guarulhos. Neste momento, em que o Estado determinou a prorrogação da quarentena até 10 de maio, a Prefeitura pode até vir a ter problemas jurídicos caso siga em outra direção. Administrações municipais que contrariaram o decreto estadual estão sofrendo ações da Justiça por desobediência.

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