Estadão

Após oito quedas seguidas, dólar sobe 0,53% com China e Fed no radar

Após oito pregões consecutivos de baixa, em que acumulou desvalorização de 7,98%, o dólar subiu nesta segunda-feira, 28, no mercado doméstico, com investidores aproveitado a alta da moeda norte-americana no exterior e o tombo do petróleo para ajustar posições e realizar lucros. O barril tipo Brent, referência para a Petrobras, caiu mais de 9% e voltou a ser negociado abaixo da marca de US$ 110.

Além da perspectiva de uma aceleração de ritmo de alta dos juros nos Estados Unidos, que fortalece o dólar no exterior, contribuem para a pausa no movimento de apreciação do real medidas restritivas em Xangai, na China, para conter novo surto de covid-19, embora o minério de ferro tenha subido 3,53% no porto chinês de Qingdao. Alta de juros nos países desenvolvidos, sobretudo nos EUA, e uma eventual piora da atividade na China avivam temores de desaceleração da economia global. O mercado também mostra cautela diante do desenrolar da guerra na Ucrânia, com negociações de paz programadas para a terça-feira, na Turquia.

Por aqui, o mercado absorve declarações do domingo do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterando que o Comitê de Política Monetária (Copom) está pronto para encerrar o ciclo de alta dos juros com elevação da Selic em 1 ponto porcentual maio, para 12,75% ao ano – um nível que, segundo Campos Neto, seria "capaz de levar a inflação à meta no horizonte relevante" da política monetária.

Mesmo se o BC decidir estacionar a taxa Selic em 12,75% e o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) acelerar o passo, o diferencial de juros interno e externo será enorme, estimulando o carry trade, dizem analistas. O juro real doméstico elevado tende a servir de anteparo à moeda brasileira, ao encarecer operações de hedge e posições compradas em dólar (que ganham quando a moeda americana sobe).

Com pressão compradora mais forte pela manhã, o dólar chegou a superar a barreira de R$ 4,80 e correr até a máxima de R$ 4,8190 (+1,39%). Já no início da tarde a divisa desacelerava os ganhos, para a casa de R$ 4,78. No fim dos negócios, era cotada a R$ 4,7726, alta de 0,53%. No mês, o dólar ainda acumula queda de 7,43%. Em 2022, a baixa é de 14,41%.

No exterior, o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – subia cerca de 0,40%, na casa dos 99,100 pontos, com ganhos de mais de 1% frente ao iene, após recompra de títulos pelo BC japonês. Em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, os maiores ganhos eram em relação ao rand sul-africano e o real.

Para Nicolas Farto, especialista da Renova Invest, o pregão desta segunda foi marcado por uma realização natural de lucros, após uma sequência forte de queda da moeda americana. "A alta do dólar lá fora tem uma relação grande com a inversão da curva de juros americana, que deixa o mercado com menor tolerância ao risco. A inflação elevada pode levar a juros maiores nos Estados Unidos, o que aumenta a atratividade do dólar", diz Farto, em referência ao fato do retorno da T-note 10 anos estarem abaixo da taxa do título de 5 anos.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, observa que dados recentes de manufatura e serviços nos Estados Unidos mostram que "possivelmente" a guerra na Ucrânia terá mais impacto sobre a inflação do que a atividade. Ela trabalha com quatro altas dos juros americanos em 0,5 ponto porcentual, o que levaria a taxa rapidamente para o nível neutro. Em seguida, o Fed poderia reduzir o ritmo para 0,25 ponto para calibrar o quão restritiva será a política monetária. "Vislumbramos juros terminais de, no mínimo, 3,5% nos EUA, dado o enorme desafio imposto pelo processo de desinflação com salários e preços de commodities elevados", afirma Damico, em relatório.

A economista vê a entrada de fluxos externos para a Bolsa doméstica e possivelmente para a renda fixa, dado o diferencial de juros, como vetores predominante da alta recente do real. Modelos que buscam estabelecer o preço justo da moeda no curto prazo "sugerem patamares ainda mais apreciados que o atual", observa Damico. "Porém, a convergência plena para o preço justo de forma consistente e perene depende do endereçamento do equilíbrio fiscal de médio prazo por meio de regras fiscais confiáveis e reformas macro e microeconômicas", afirma.

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