Entrave para um acordo entre o Mercosul e a União Europeia, o governo da Argentina deu sinal verde aos parceiros do bloco latino-americano para que as negociações com Bruxelas avancem. Essa definição ficou clara porque o governo brasileiro abandonou a hipótese de “acordos diferenciados” e agora garante que os argentinos estarão juntos na nova fase das negociações.
Na terça-feira, 9, na véspera da reunião que trataria do assunto em Bruxelas, vários ministros do governo de Dilma Rousseff ressaltaram que não existem mais entraves às negociações – pelo menos do lado latino-americano. “Podemos marcar a data para trocar as ofertas”, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro. Questionado sobre a posição da Argentina, ele afirmou: “Não tem muito problema. Nós estamos praticamente já fechando a nossa posição”.
Segundo Monteiro, o Brasil “nunca considerou a possibilidade de vir sem ser com a Argentina”. A respeito da hipótese de “acordos diferenciados”, que pressuporiam graus diferentes de livre mercado entre cada país do Mercosul, o ministro. “Foi uma posição que o Uruguai manifestou, mas nós entendemos que não seria desejável, à medida que a Argentina nunca nos colocou uma posição de refratária ou claramente de oposição a uma oferta. Nós vamos juntos”, assegurou. “Tem um processo de aproximação ainda a fazer no núcleo comum da oferta, mas eu acho que é algo muito factível.”
Indagado sobre se o Brasil tinha recebido um sinal verde da Argentina, Monteiro foi enfático: “Claramente sim. Nós estivemos reunidos várias vezes nesse último período e a Argentina sempre reafirma a posição de que estamos juntos e vamos juntos”.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a negociação entre Mercosul e União Europeia será discutida nesta quinta-feira. “Nós vamos dizer que estamos prontos a retomar as negociações. E vamos marcar as datas”, confirmou.
Para Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, a posição da Argentina não mudou. “Só havia um problema de datas”, garantiu. Segundo ele, porém, um outro fator ainda pode pesar no ritmo das negociações com Bruxelas: as eleições na Argentina. “Todo mundo está mais ou menos consciente de que vai tomar o seu tempo”, advertiu Garcia. “Talvez esse tempo possa se combinar um pouco com o da eleição argentina. Esse tema é um tema que pode entrar na campanha eleitoral.”
Proposta brasileira
A presidente Dilma Rousseff confirmou nesta quarta-feira, em Bruxelas, na Bélgica, que os países do Mercosul entregarão uma oferta para um acordo de livre comércio com a União Europeia e que esperam uma resposta dos europeus “em dias ou meses”. O pedido foi feito durante reunião bilateral com o primeiro-ministro da Bélgica, Charles Michel, anfitrião da reunião de cúpula entre UE e Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que começa em Bruxelas, na Bélgica. A expectativa da presidente é de que a resposta europeia seja dada até julho.