Se na peça que inaugurou o Poeira em 2005, Sonata de Outono, o assunto tratado foi o delicado relacionamento entre fama e maternidade, agora Marieta Severo e Andréa Beltrão escolheram uma comédia que satiriza os julgamentos arbitrários da sociedade moderna. Trata-se de O Espectador Condenado à Morte, que o romeno Matéi Visniec escreveu em 1985, ainda sob a ditadura de Nicolae Ceausescu.
Trata-se de um texto marcado por situações absurdas ao mostrar um tribunal implacável que desconsidera totalmente a inocência de um suposto acusado, atribuindo-lhe faltas e erros que, curiosamente, o transformariam em inocente. Ao aliar um surrealismo kafkiano com o teatro absurdo de Ionesco (e sem se esquecer do existencialismo de Camus), Visniec transporta o público para uma viagem alucinante da qual ele também faz parte, tornando-se testemunha de um delírio que não se sabe se é verdadeiro.
"Queremos que o Poeira continue com essa vocação para a provocação", comenta Andréa, que ainda não sabe precisar a estreia da peça. Atitude que também marca o papel que ela e Marieta desempenham em Um Lugar ao Sol, novela das 21h da Globo que coleciona elogios pela maturidade com que trata de temas delicados.
"O texto da Lícia Manzo levanta questões de comportamento, mas com um olhar atento para a complexidade do ser humano", comenta Marieta, que vive Noca, uma mulher de 70 anos que está sempre disposta a se reinventar, mesmo com um passado marcado por profundos problemas. "Ela traz a sabedoria da vida, aprendeu com o sofrimento – isso me ajudou muito também no aspecto pessoal", comenta a atriz, cujo companheiro, o diretor Aderbal Freire-Filho, se recupera de um delicado problema de saúde.
PROXIMIDADE. Também elogiosa quando se refere às situações criadas por Lícia, Andréa destaca a proximidade que ela cria com o espectador. "Diversas pessoas já disseram que teriam feito a mesma coisa que determinado personagem, ou dito a mesma frase", observa. "Na novela, todos são pessoas precárias em relação aos sentimentos, apresentando defeitos."
A atriz se identifica com Rebeca, modelo que, ao passar dos 50 anos, vive o drama de ter perdido espaço no mundo da moda. "Sou um pouco mais velha que ela mas, em determinado momento, também percebi as mudanças: rugas, menopausa, enfim, alterações nas perspectiva de vida", afirma Andréa, lembrando que a novela já está toda gravada, como prevenção contra eventual parada provocada pela pandemia. "Isso deixou o texto de Lícia ainda mais amarrado." As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>