Mundo das Palavras

A”viradinha” na notícia

As revistas Realidade e Veja foram criadas pela Abril, quando esta grande editora era dirigida, no final dos anos de 1960, por seu fundador Victor Civita, com o auxílio de seus dois filhos, Robert e  Richard.


 


Realidade existiu, sobretudo, durante a fase em que a Abril esteve sob o controle desta espécie de triunvirato familiar. Veja sobreviveu a ela. Por isto tem acompanhado não só as mudanças ocorridas no país, como aquelas pelas quais tem passado a própria editora, desde a morte de seu fundador, com a posterior separação empresarial dos seus filhos.


 


Já no início Realidade e Veja eram diferentes. A primeira, de circulação mensal, se dedicou a grandes reportagens. A segunda, semanal, foi sempre uma revista de atualidades.


 


Estas diferenças, no entanto, explicam apenas parcialmente o abismo que surgiu nelas com relação ao modo como eram produzidos seus textos. Um abismo certamente provocado também pela interferência de vários fatores – ideológicos, políticos, empresariais – susceptíveis de melhor identificação através de uma pesquisa específica sobre eles. Mas um jornalista que trabalhou nas duas revistas descreveu estas diferenças para o livro “O texto da reportagem impressa. Um curso sobre sua estrutura”.


 


Em resumo, ele disse que o repórter de Realidade recebia uma pauta com informações sobre assunto de que tinha de cuidar. Se aquelas informações se mostrassem falsas, ele tinha liberdade de abordar o assunto usando aquilo que, de fato, encontrasse.


 


Quanto à Veja, os assuntos que seriam anunciados na capa do seu número seguinte eram escolhidos numa reunião entre os editores, realizada no início da semana, para que a gráfica tivesse mais tempo na resolução dos problemas da impressão dela, em geral mais complexos que os da impressão das páginas internas.


 


Ocorre que, junto com as imagens a serem usadas na capa, iam logo para a gráfica também os títulos das matérias que seriam anunciadas nela. E, com isto, cada título estabelecia, de modo definitivo, a abordagem do assunto a que ele correspondia, antes de os repórteres começarem a levantar informações. Por esta razão, de tudo o que eles colhiam só podiam ser aproveitadas as informações que dessem sustentação àquilo que já fora inserido na capa. Quando nada correspondia ao título da capa no relato feito por um repórter, seu editor podiam dar uma “viradinha” nos textos que recebia.


 


Depois da publicação do depoimento daquele jornalista transcorreram mais de dez anos. Hoje, a “viradinha” ainda existe? O acham os leitores de Veja?           


 

Posso ajudar?