Considerada uma das maiores exportadoras e produtoras de carne no Brasil no início dos anos 2000, a família Bertin tem colecionado vários processos, em litígios com ex-sócios e credores, e enfrenta questionamentos de atuais parceiros em negócios nos quais atua e estão fora da recuperação judicial pedida em agosto do ano passado.
O grupo, que surgiu há mais de 50 anos como frigorífico na cidade de Lins, interior de São Paulo, fundado por João Bertin, começou a ganhar destaque em infraestrutura, sobretudo em energia, na segunda metade dos anos 2000: arrematou dezenas de projetos na área de geração de energia e viu sua empreiteira, a Contern, engordar o caixa com obras além da fronteira do agronegócio, origem do grupo.
Mas, a partir de 2009, dois anos depois de arrematar importantes concessões em rodovias, o grupo viu seu império de carnes, erguido com a ajuda de financiamentos de mais de R$ 3 bilhões do BNDES, ruir. Em dificuldade financeira, em boa parte ocasionada pela diversificação dos negócios, os frigoríficos dos Bertin foram comprados pelo seu maior concorrente, o JBS, da família Batista – os dois grupos hoje estão em litígio.
Entre 2012 e 2016, várias outorgas de projetos bilionários de energia começaram a ser retiradas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Dos mais de 30 projetos em energia, a Aneel revogou 22 – o grupo chegou a ter sociedade na Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), mas teve de desistir por falta de recursos.
Atualmente, o que gera caixa para o grupo são as concessões rodoviárias. Além de controlar a SPMar, concessionária dos trechos Sul e Leste do Rodoanel de São Paulo, o Bertin também é sócio da gigante italiana Atlantia na AB Concessões, com rodovias em São Paulo e Minas Gerais.
No caso da AB, a participação de 50% menos uma ação da família Bertin é detida por uma empresa chamada Haoulimau, na qual a família Tarallo (que também é sócia da SPMar e tenta barrar o plano dos Bertin de vendê-la para pagar dívidas) tem uma fatia de 27,3%.
Lava Jato
Em meio à crise financeira, o grupo Bertin passou a ser citado em várias fases da operação Lava Jato. Em uma delas, o empresário Natalino Bertin, filho do patriarca da família, foi denunciado pelo uso de suas contas para movimentação de parte de R$ 12 milhões emprestados ao PT em 2004 pelo Banco Schahin de forma considerada fraudulenta. O elo foi o pecuarista José Carlos Bumlai, ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Metade desses valores foi parar em contas do empresário Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do Grande ABC.
Em novembro de 2015, a sede dos Bertin foi alvo de buscas e Natalino e seu irmão Silmar foram conduzidos coercitivamente à Polícia Federal.
Em sua delação no ano passado, Lúcio Funaro, apontado como operador do MDB, afirmou que o presidente Michel Temer, o atual ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, e o ex-deputado Eduardo Cunha teriam recebido parte da propina paga por uma empresa de energia do grupo Bertin para liberação de recursos para tocar os negócios do grupos.
Outro lado
Procurados, a defesa e a assessoria de Temer afirmaram que “está provado que Funaro não é confiável, uma vez que já mentiu outras vezes à Justiça”.
A assessoria de Moreira Franco disse que ele não tem qualquer vínculo com os fatos.
A defesa de Natalino Bertin afirmou que seu cliente teve seu nome indevidamente envolvido na operação e que as acusações são infundadas.
A defesa de Lúcio Funaro não quis comentar.
As de Ronan, família Schahin e de Bumlai não comentam e afirmam que eles já prestaram depoimentos à Justiça.
O BNDES diz que não comenta casos de recuperação judicial.
O PT não retornou os pedidos de entrevista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.