Demorou mais de um mês, mas finalmente 47 dioceses de São Paulo, além do arcebispo metropolitano de Belém, dom Alberto Taveira Corrêa, resolveram endossar a posição liderada pelo bispo diocesano de Guarulhos, dom Luiz Gonzaga Bergonzini, que em carta aberta aos fieis sugeria aos cristãos para não votarem em candidatos que, de alguma forma, defendam teses que atentem contra a vida. Em outras palavras, que acatem a liberação do aborto, como consta do programa de governo do PT, da candidata à Presidência Dilma Rousseff.
A carta publicada agora, intitulada “Apelo a todos os brasileiros e brasileiras”, critica a posição do PT, de Dilma e do governo federal em relação à prática do aborto. O documento lembra diversos momentos dos três em prol do direito de escolha da mulher: “Com todas essas decisões a favor do aborto, o PT e o atual governo tornaram-se ativos colaboradores do imperialismo demográfico imposto sob o falacioso pretexto da defesa dos direitos reprodutivos e sexuais da mulher”. E recomenda: “Nas próximas eleições, deem seus votos somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto”.
A carta soa como um banho gelado à estratégia de Dilma de aproximação com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) depois que o bispo de Guarulhos divulgou mensagem pregando a rejeição da candidatura petista por ser supostamente pró-aborto. Desde então, a ex-ministra tem usado entrevistas e debates para reforçar sua ligação com o catolicismo e a posição contrária à interrupção da gravidez, dizendo que “nenhuma mulher é favorável ao aborto”. A campanha divulgou até um compromisso com as igrejas cristãs, intitulado “Carta aberta ao povo de Deus” e a cartilha “13 motivos para o cristão votar em Dilma Rousseff”.
A aproximação com a CNBB teve o dedo de Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além da carta, Dilma fez uma visita ao presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, e confirmou presença no debate entre os candidatos promovido pela instituição, marcado para 23 de setembro. Porém, no encontro entre os candidatos, promovido pela TV católica, Rede Vida, semana passada, ela não apareceu, quando o assunto foi abordado mais uma vez.
Ou seja, apesar dos esforços da campanha de Dilma para minimizar os estragos criados pelas declarações reiteradas do bispo de Guarulhos, as ações dos petistas não apresentam resultados concretos. Conversas de bastidores apenas não bastam para contrapor as diretrizes do plano de governo do partido, que estão incluídas no fatídico Plano Nacional dos Direitos Humanos, reeditado por Lula, com uma série de quesitos que vão contra as liberdades individuais, mas que – de forma impressionante – desapareceram da mídia neste período de campanha eleitoral.
A posição dos bispos é legítima, ao defender uma determinada posição junto a seus fieis, assim como fazem determinados sindicatos em relação às categorias que defendem. Se a igreja rechaça diálogo referente à liberação do aborto, por que então se calar diante do projeto de uma candidata que admite liberalizá-lo? Se permanecessem calados, os bispos seriam acusados de omissão.