Enquanto o Galo da Madrugada tomava os bairros de Santo Antonio e São José, num percurso de seis quilômetros, no vizinho bairro da Boa Vista, mais especificamente na Rua Sete de Setembro, o bloco “Nois sofre mas nois goza” foi às ruas pelo 39º carnaval, desfilando por um trecho de um quarteirão, fazendo a festa dos seus adeptos.
Criado em plena época de repressão política, em 1976, o Nois Sofre nasceu da extinta livraria Livro Sete, gueto de intelectuais, jornalistas e artistas. Segundo o seu idealizador e organizador, o livreiro Tarcísio Pereira, com a abertura política o bloco se adaptou a outras frustrações do povo e continua firme, distribuindo animação.
“O Nois sofre tem esse tom crítico e irreverente e é uma das coisas boas do carnaval do Recife”, disse Plácido Júnior, integrante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), há 10 anos acompanhando o bloco. O professor universitário Daniel Rodrigues, gaúcho residente no Recife desde 1985, não perde a brincadeira desde então.
Pré-candidato a reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ele observou que se a universidade puder beber um pouco do criativo carnaval pernambucano, “vai cada vez mais mergulhar nas necessidades da sociedade”. O Nóis Sofre começou sua concentração por volta do meio dia e passou toda a tarde restrito ao pequeno trecho do seu desfile, com orquestra de frevo e foliões incansáveis.