A Procuradoria Geral da República recebeu nesta sexta-feira a ordem de prisão da Espanha referente ao ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e pedirá nesta segunda a transferência do processo para poder julga-lo no Brasil.
Segundo apurou o Estado em Madri, três documentos foram enviados à Brasília, que agora examina informações preliminares que poderiam resultado em uma detenção. A decisão será tomada com base nas provas e documentos que o Ministério Público enviará ao Brasil. O caso será conduzido por procuradores federais no Rio de Janeiro.
Na semana que vem, uma reunião entre procuradores espanhóis e brasileiros poderá determinar os detalhes da cooperação e, se as informações preliminares forem confirmadas, a tendência é de que ele possa ser detido preventivamente.
O ex-cartola brasileiro foi acusado na Espanha de ser o “principal estafador” (articulador) de um esquema de desvio de dinheiro de jogos da seleção brasileira. Outras quatro pessoas implicadas no mesmo esquema estão em prisão em Madri, sem direito à fiança. Um deles é Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona.
Em uma apuração inicial, procuradores estimam que ele poderia responder por estelionato contra a CBF e apropriação indébita seguida de lavagem de dinheiro. Isso tudo sem contar ainda com crimes contra a ordem fiscal e evasão de divisas.
ACELERAR – Outra medida tomada pelo Brasil foi a de demonstrar “boa vontade” com outros pedidos que existia da Espanha para a investigação de outros casos envolvendo interesses de Madri no País. Assim, ao cumprir diligências solicitadas pelos espanhóis em outros casos, o Brasil espera mandar um sinal de que quer acelerar a ajuda no caso envolvendo a CBF.
No próximo dia 26, o tema ainda voltará a ser tratado por procuradores dos dois lados do Atlântico. O encontro, que ocorre por videoconferência, já estava marcado há semanas e tratará de outros assuntos. Mas o Brasil quer aproveitar para também tocar na cooperação relacionada com Ricardo Teixeira e examinar a forma de permitir que o tema tenha continuidade.
A ordem de prisão partiu da juíza Carmen Lamela, da Audiência Nacional em Madri. “Teixeira obteve, de forma indireta, mediante a um emaranhado societário que se nutria da renda do acordo da ISE para a Uptrend, grande parte dos 8,3 milhões de euros (cerca de R$ 30 milhões) que a ISE transferiu para a Uptrend pela suposta intermediação desta última”, afirmou. A decisão da juíza é do dia 12 de junho.
Conforme o jornal O Estado de S.Paulo revelou ainda em 2013, acordos secretos permitiram que a renda dos jogos da seleção fosse desviada para uma empresa em nome de Sandro Rosell, aliado de Ricardo Teixeira. No mês passado, Rosell foi preso e a Justiça espanhola apontou que parte do dinheiro que ia para sua empresa, a Uptrend, terminava com o próprio Teixeira.
Os investigadores concluem, portanto, que “parte dos fundos não foi para a CBF, senão que, de uma forma fraudulenta, foram ao próprio Teixeira”. De acordo com a Audiência Nacional, os fatos apurados levam a crer que o brasileiro acabaria sendo o “destinatário do dinheiro, e não a Confederação (CBF)”.
As autoridades espanholas ainda chegam à constatação de que o delito de Ricardo Teixeira foi “a apropriação por parte do presidente da CBF dos fundos pagos para obter os direitos dos partidos jogados pela seleção brasileira”. Desde a prisão de Sandro Rosell, a defesa do brasileiro tem negado qualquer tipo de irregularidade.