Em depoimento na CPI da Merenda na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o presidente da Casa, Fernando Capez (PSDB), voltou a negar nesta quarta-feira, 14, qualquer envolvimento com a máfia acusada de desviar recursos em contratos da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) com o governo Geraldo Alckmin (PSDB) e com prefeituras paulistas.
“Não recebi um centavo dessa ou de qualquer outra cooperativa. Minha campanha não recebeu um centavo de cooperativas. Não conheço essas pessoas que citaram meu nome, jamais troquei mensagens, jamais liguei para esses pessoa. E jamais interferi na Secretaria da Educação”, afirmou Capez no início de seu depoimento na CPI. Houve tumulto entre estudantes e policiais militares antes e durante a sessão – a PM chegou a lançar gás de pimenta contra os manifestantes.
Capez também afirmou que jamais teve contato com o lobista Marcel Júlio, que acusou o tucano de ter recebido dinheiro da Coaf para sua campanha em 2014, e que não se relacionava com Jeter Rodrigues Pereira, seu ex-assessor, que assinou contrato de consultoria com a cooperativa no valor de R$ 200 mil. “Não tem e não terá nada contra mim nessa investigação. Fui usado e de vítima fui tratado como suspeito”, afirmou.
O presidente da Casa chegou a bater boca com o deputado João Paulo Rillo (PT) após o petista ter dito que a Máfia da Merenda se assemelhava à máfia italiana, na qual os integrantes presos afirmavam à polícia que não tinham relação com o chefe da quadrilha, conhecido como “padrinho”.
“Vossa excelência está dizendo que é vítima de um esquema montado por sua própria assessoria. Se o senhor não consegue controlar um gabinete com 20 pessoas, o relatório dessa CPI vai mostrar, no mínimo, a incapacidade do presidente Capez em presidir esta Casa”, disse Rillo.
“O senhor (Rillo) está cumprindo muito bem esse papel de ator”, rebateu Capez. “Sou uma pessoa correta e honesta. Não apareceu nada contra mim. O que existe aqui é um grande desgaste político. Acho que o senhor vai ficar decepcionado com meu futuro político, vai ser um pouco diferente daquilo que o senhor espera e torce”. O tucano disse ainda que “se tivesse feito uma coisa como essa (receber propina da cooperativa) teria vergonha de vir aqui hoje”.
Outros deputados do PT, como Alencar Santana e Márcia Lia, criticaram a convocação da CPI para ouvir Capez antes do envio de documentos sobre a investigação da Máfia da Merenda pela Procuradoria-Geral de Justiça, Tribunal de Justiça e Ministério Público Federal, como a íntegra das delações premiadas feitas pelo lobista Marcel Júlio e por Cássio Chebabi, ex-presidente da Coaf, ambos presos na Operação Alba Branca. “Houve uma antecipação da vinda do presidente Capez nesta CPI. Estamos de mãos atadas para avançar sem ter acesso a essas informações”, disse Santana.
Deputados da base governista elogiaram a fala de Capez e criticaram a conduta dos promotores e policiais da Alba Branca, que deflagraram a operação em janeiro deste ano na cidade de Bebedouro, interior paulista, e a imprensa por ter divulgado fatos da investigação.
O depoimento de Capez durou cerca de três horas. Antes dele, foi ouvido Luiz Carlos Gutierrez, o Licá, funcionário da Alesp e ex-assessor do tucano, também implicado no esquema por testemunhas. Em rápida oitiva, Licá rebateu as acusações e negou conhecer os suspeitos e delatores.
Já o servidor José Merivaldo dos Santos, que trabalhou com Capez em 2011 e fez campanha para o presidente da Alesp, não compareceu alegando problema de saúde – tratamento de um câncer – e foi reconvocado para a próxima semana.
O deputado Alencar Santana (PT) exibiu uma foto na CPI na qual Merivaldo foi flagrado em uma tabacaria na zona norte de São Paulo na semana passada ao lado de uma garrafa de uísque e charuto. “Ele não vem depor na CPI alegando problema de saúde, mas na quinta-feira estava tomando uísque e fumando charuto. É lamentável”, disse o petista.
Merivaldo é acusado de ter recebido um cheque de R$ 50 mil da Coaf por uma consultoria no contrato da cooperativa com a Secretaria da Educação.