O novo secretário municipal de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita (PMDB), pretende levar ensino de tempo integral aos Centros Educacionais Unificados (CEUs). O objetivo é, segundo fontes próximas ao peemedebista, fazer dessa proposta a marca da nova gestão. Chalita, que teve a nomeação publicada ontem no Diário Oficial da Cidade, toma posse amanhã e terá pouco menos de dois anos à frente da pasta.
Como não terá muito tempo para tirar grandes obras do papel, Chalita deverá implementar a política em CEUs construídos nas gestões anteriores. O prefeito Fernando Haddad (PT) prometeu entregar 20 novos CEUs até 2016, mas até agora não foram abertas licitações.
Para cumprir a meta, a ideia não é erguer novas unidades, mas adequar a infraestrutura de unidades educacionais ou esportivas já existentes. A rede hoje tem 45 CEUs, com 120 mil alunos. Ainda não há uma projeção de quantos seriam atendidos pelo modelo do novo secretário.
A articulação entre PT e PMDB prevê que Chalita seja candidato a vice-prefeito na chapa de Haddad na eleição municipal do ano que vem. De olho nas urnas, o foco nos CEUs ajuda a aumentar a influência dos dois na periferia. Os bairros mais pobres costumam dar boa votação a Marta Suplicy (PT), que pode trocar de sigla e concorrer à Prefeitura em 2016.
Outro dos principais desafios de Chalita no cargo será acelerar a expansão da oferta de educação infantil. Das 150 mil novas vagas previstas por Haddad, a Prefeitura diz ter entregue 40,9 mil até agora. Há nove creches em construção e 49 em licitação – são 243 previstas até o fim do mandato. Outra saída tem sido aumentar a oferta de vagas pela rede conveniada.
Experiência interrompida. O programa Escola de Tempo Integral foi uma das principais bandeiras de Chalita quando comandou a Secretaria da Educação do Estado (SEE), entre 2003 e 2006. Seu projeto de jornada escolar ampliada na rede, porém, foi gradualmente abandonado nas gestões seguintes.
Em 2006, último ano de mandato do governador Geraldo Alckmin (PSDB), Chalita implementou o modelo de tempo integral em 514 escolas de uma só vez. Pelo sistema, os estudantes teriam o currículo normal pela manhã e oficinas à tarde. A ideia original era expandir para todo o ensino fundamental.
Implementado às pressas, o modelo foi alvo de críticas, como falta de preparação dos professores ou de infraestrutura adequada para manter os alunos por várias horas no colégio.
“Não dava para abrir o ensino integral em mais de 500 escolas da noite para o dia”, relatou ao Estado uma ex-integrante da cúpula da SEE que acompanhou o projeto pouco depois da criação. “As escolas não estavam adaptadas e os professores não tiveram preparo para atuar no contraturno.”
Em Mirassol, no interior, a Justiça chegou a suspender o projeto em 2006, a pedido do Ministério Público, por falhas nas estruturas física e pedagógica. Queixas também foram registradas em outras cidades.
A presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Noronha, também critica. “O currículo precisa ocorrer de forma integrada. Não tem essa de aulas formais durante a manhã e, à tarde, só práticas de outras atividades”, disse. “O que mais faltou foi infraestrutura”, completou.
A consultora em educação Ilona Becskeházy alerta para a necessidade de planejamento. “É preciso ter objetivo, com investimentos e profissionais adequados. Nada de última hora vai dar certo”, avalia.
Ao longo das gestões seguinte, de José Serra e Alberto Goldman, entre 2007 e 2010, o número de escolas de tempo integral recuou de 514 para 399. Quando voltou ao governo, em 2011, Alckmin lançou um novo modelo de ensino integral, que está sendo implementado.
Segundo o site da SEE, no ano passado ainda havia 255 escolas de ensino integral no modelo de Chalita. Já o novo formato estava em 182 unidades. A pasta tem migrado escolas do formato antigo para o mais recente.
Explicações
A SEE não informou os critérios para a mudança de modelos nem comentou as queixas sobre o formato de ensino integral de 2006. Chalita também não se manifestou sobre as críticas ao projeto elaborado na sua gestão.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.