Dados divulgados pelo governo federal revelam um excelente superávit na balança comercial. O que poderia ser uma ótima notícia para o país acaba sendo motivo para preocupação. Aumentou a arrecadação, mas os gastos de custeio não diminuíram. Desta forma, os investimentos, que não podem ser cortados, ficaram contidos em relação ao ano passado. Ou seja, a máquina estatal segue inchada, sem perspectivas que possam demonstrar que existe alguma luz do fim do túnel.
Historicamente, o investimento público federal está em 1% do PIB, o que limita demais os recursos em obras que visem o desenvolvimento do país. Para piorar o quadro, neste pequeno índice que sobra para investimentos, o governo aposta suas fichas em projetos controversos, que podem significar buracos sem fundo do ponto de vista fiscal, como Belo Monte e trem-bala. Nem os mais entusiastas desses megaprojetos sabem dizer quanto vão custar. Desta forma, quando o cobertor fica curo, é necessário escolher que lado ficará descoberto.
Para 2012, porém, há a expectativa de que haja um descongelamento dos investimentos do governo, represados neste ano. Afinal, trata-se de ano de eleições municipais, o que serve para incentivar o aumento de despesas. Já se sabe que o aumento do salário mínimo em cerca de 14% elevará gastos com Previdência, benefícios assistenciais e seguro-desemprego, depois que a presidente Dilma preferiu vetar o aumento em 2011 deixando um repasse maior justamente para o período em que os brasileiros vão às urnas.
A expansão de gastos será inflacionária, o que deve obrigar o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo. No caso de agravamento da crise externa, pode não haver espaço para cortes muito amplos na taxa Selic, como vêm defendendo governo e economistas.
Além do aumento dos gastos, as desonerações tributárias já anunciadas também terão impacto muito forte. Estimativas do governo indicam que o pacote de estímulo industrial e a ampliação do Supersimples (sistema diferenciado de tributação para pequenas empresas) provocarão renúncia fiscal de cerca de R$ 30 bilhões. Ou seja, o governo não consegue explicar como irá fazer para controlar os gastos, o que pode gerar um período bastante instável em curto e médio prazo.