O dólar fechou a semana acumulando alta de 1,5%, devolvendo parte da queda da semana passada, quando recuou 6%. Os últimos dias foram marcados por forte volatilidade no mercado de câmbio e pela volta ao radar das preocupações fiscais com o Brasil, após uma trégua em meio às eleições americanas. As principais dúvidas dos investidores sobre o orçamento brasileiro continuam sem resposta, sendo a principal delas como o governo pretende financiar seus programas sociais em 2021. Esse ambiente de incerteza fiscal em alta ajudou o real a se descolar de outras moedas emergentes nos últimos dias, mesmo com o forte ingresso de capital externo para a Bolsa, com entradas diárias recordes, superando os R$ 11,7 bilhões esta semana.
O dólar à vista, após novo dia volátil, encerrou a semana em R$ 5,4756, mas ao longo do dia chegou a superar os R$ 5,52. No mercado futuro, o dólar para dezembro fechou estável, em R$ 5,4620.
Para o gerente de tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini, após a forte queda da semana passada e a cair a R$ 5,22, era esperado um ajuste no câmbio. "Houve exagero na semana passada", disse ele. Ele comenta que o crescimento acelerado dos casos de covid na Europa e Estados Unidos voltou a preocupar, depois de ficar em segundo plano em meio à apuração da eleição americana. Outro fator a gerar desconforto foi o fato de Donald Trump ainda não ter reconhecido sua derrota nas urnas.
No Brasil, Pellegrini ressalta que o principal foco dos investidores segue na agenda fiscal do governo, ainda sem respostas. "As reformas não andam", destaca ele, ressaltando que as mesas de câmbio vão continuar se focando neste assunto nas próximas semanas. Hoje, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a mostrar compromisso fiscal, falar da necessidade de respeitar o teto em 2021 e repetiu que o auxílio emergencial termina dia 31 de dezembro e que o novo programa de renda não será criado se não houver responsabilidade fiscal.
"A semana foi bem instável de forma geral, não só aqui, mas no mercado de moedas global", comenta o diretor de um banco, na condição de anonimato. Para ele, muitos fatores induziram a movimentos "fortes e às vezes erráticos" do real, como a volta dos ruídos envolvendo a prorrogação de benefícios sociais a partir de janeiro, como sinalizou Guedes ontem caso haja uma segunda onda de coronavírus. Este ambiente somado a uma apreciação acima dos pares na semana anterior, explica parte dos movimentos atípicos dos últimos dias, disse o diretor.
"As incertezas quanto à dinâmica fiscal nos próximos anos devem seguir impactando o prêmio de risco brasileiro", afirma o Itaú nesta sexta-feira. O aumento do risco fiscal levou o Itaú a subir a projeção de dólar para o final de 2021, de R$ 4,50 para R$ 5,00. A taxa de câmbio do final deste ano foi mantida em R$ 5,25. É o avanço do ajuste fiscal que vai definir se o real fica mais ou menos apreciado, conclui o Itaú.